Quem alguma vez já precisou usar os banheiros da Praça Osório, Passeio Público, Shopping Curitiba ou de terminais de ônibus já deve ter se deparado com alguma cena de pegação entre homens nesses ambiente. Além dos banheiros, parques como o Barigui e o Náutico, em Curitiba, contam com estacionamentos e trilhas que também são comumente usados para pegação e sexo. Estes, entretanto, não são espaços exclusivos de homossexuais. Mas por que usar esses locais? Fetiche? Cultura gay? Falta de opção?
Historicamente, o antropólogo James Green, em seu livro Além do Carnaval, aponta que no Rio de Janeiro, espaços públicos como parques e cinemas viraram locais de encontro de homossexuais nos séculos passados porque ser assumido, criar uma relação e trazer o companheiro para casa ou para um hotel não eram opções. O preconceito era responsável, inclusive, por leis que penalizavam práticas de sodomia ou “vadiagem”, como era colocado. Então, a Praça Tiradentes e o Cinema Íris são grandes marcos dessa cultura na cidade carioca. A prática também foi registrada em outras cidades maiores, como São Paulo, Salvador, Fortaleza e Curitiba.
Acredita-se que essa cultura tenha nascido de uma necessidade de relação e conexão entre homossexuais assumidos e não assumidos nos séculos passados. Mas hoje, baladas alternativas, cafés e bares LGBTs e até os aplicativos de relacionamento facilitam o encontram e eliminam a necessidade desses espaços de interação.
É claro que o fato de não ser assumido e gostar de sentir prazer com outro homem em sigilo ainda é um fator que pesa para muitos caras, mas não se restringe a isso. Esses ambientes já estão marcados na cultura LGBT de Curitiba, como espaços de pegação gay. Homens vão para as trilhas ou para esses banheiros em dias e horários definidos. Além disso, as trilhas e os banheiros também servem de ponto para muitos michês – garotos de programa masculinos, principalmente na Osório, Passeio Público e no Barigui.
Legislação
A legislação brasileira penaliza diversos tipos de crimes sexuais. O artigo 233 do Código Penal Brasileiro diz: Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público. Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa. Ou seja, ser flagrado fazendo sexo dentro do carro ou em espaços que tenha acesso ao público pode, sim, gerar cadeia. O procedimento seguido pela polícia é primeiro de identificar os envolvidos, depois levá-los até a delegacia e, por fim, uma transação penal é realizada para que a pena seja aplicada.
Mídia
Em 2012, um caso ficou famoso em todo o Brasil quando um aposentado de 43 anos gravou um vídeo de homens se pegando nas trilhas do Parque Barigui. A imprensa nacional divulgou o caso com um grande teor de homofobia, que também é compartilhado pela polícia da região, que ficou famosa por ser truculenta nas suas rondas e abordagens. Como qualquer questão no Brasil, soluções não são procuradas ou sugeridas.
Exemplo americano
Em Wilton Manors, no estado da Flórida, nos Estados Unidos, a população local começou a pensar em estratégias para ocupar espaços que são usados para pegação entre homossexuais e usá-los para seus devidos fins. Afinal, se o país tem uma legislação contra sexo em público, mas mesmo assim isso acontece em um parque, que é uma área de lazer, qual a melhor forma de resolver o problema? Lá, os cidadão estão sendo convidados para participarem dos encontros “Cachorros e Vinhos”, onde cada um leva seu cachorro e aproveita aperitivos e bebidas para interagir com outros moradores.
A ideia de ocupação é positiva. Entretanto, sabemos que parte da motivação de toda essa movimentação é por homofobia contra os homossexuais que usavam o parque como ponto de encontro, assim como boa parte das críticas.
E parece que esta briga de gato e rato cria até um gatilho na excitação de quem só curte fazer pegação em locais proibidos.