Um termo até então desconhecido pelos brasileiros passou a fazer parte do cotidiano de qualquer um que acessa as redes sociais nos últimos dias: arte queer. O cancelamento da exposição Queermuseu em Porto Alegre pelo Santander Cultural após pressão de movimentos religiosos e do Movimento Brasil Livre (MBL) reacendeu a discussão do que é e o que não é permitido na arte. Com acusações de apologia a pedofilia e a zoofilia, a arte queer ganhou ares de uma arte depravada por parte dos conservadores e dos mais leigos no assunto. Mas o que é arte queer? Da onde veio? É a primeira vez que ela aparece no Brasil?
A arte queer é um movimento artístico não oficial feita com objetivo de abordar questões relacionadas a sexualidade e ao gênero, principalmente contestando a normatividade, isto é, a heterossexualidade e o gênero cis. Ela surge após um movimento pós estruturalista crítico, surgido no cinema já com o nome Queer que remete a um termo pejorativo em inglês para “estranho” e que foi resignificado. Na filosofia a discussão remota ao século XIX ou talvez antes. No cinema, a arte queer criou uma linha hoje considerada cult que inclui títulos popularizados como Pink Flamingos e Hairspray, ambas do diretor queer John Waters, uma lenda viva.
Em 2015, na cidade de São Paulo, a galeria de arte Emma Thomas recebeu a exposição “O Estranho”, do artista paulistano Francisco Hurtz. Eram cerca de 20 obras que tratavam sobre a pesquisa obsessiva do autor sobre a desconstrução do homem cisgênero, buscando ampliar a questão política envolvida em seu trabalho. Em 2016, também em São Paulo, houve um envento para o lançamento do 1º Caderno Sesc_Videobrasil – alianças de corpos vulneráveis: feminismos, ativismo bicha e cultura visual.
O curador peruano Miguel A. López, responsável por reunir os ensaios visuais e artigos da revista disse ao site da Associação Cultural VideoBrasil: “A partir dos anos 1960, emergem no campo da arte iniciativas feministas e LGBT que questionam os modelos de representação do corpo e o acesso à visibilidade. Surge a consciência de como as instituições e a história da arte são espaços de disciplinamento do corpo e do olhar, delimitando o que merece ou não ser visto. Recentemente, o feminismo e a teoria queer começaram a reclamar a relevância de obras de artistas com identidades que escapam à norma e a questionar a construção patriarcal, heterossexual, colonial e branca da história da arte e do discurso acadêmico.”
Dessse modo, percebe-se que a arte queer já vem sendo expressada no Brasil antes do episódio do cancelamento do Queermuseu. Essa forma de arte, que passou a ser tão odiada por alguns setores da sociedade brasileira vai além de pinturas, esculturas, gravuras e fotografias. Aliás, aqui no Brasil ela está em alta, só que de outra forma: na música. Você já ouviu falar na banda Liniker e os Caramelows? Do músico Johnny Hooker? Ou então da mais recente Pablo Vittar?
Todos os artistas citados têm em comum a exposição da sua orientação sexual e/ou de sua identidade de gênero “desviada”, questionando os papéis tradicionalmente reconhecidos na sociedade brasileira. Através de suas músicas, e principalmente da revelação ao público de quem verdadeiramente são, essas pessoas ajudam a quebrar esteriótipos do que é certo e de quem tem sucesso em nosso país. Por isso, independente de qual lado você esteja especificamente em relação a exposição do Queermuseu, não coloque toda a arte queer em uma mesma caixa e jogue fora, porque eu aposto que você já dançou muito Pablo Vittar por aí!!