Por que algumas pessoas choram após o sexo ou se sentem mal?

As modificações que acontecem no corpo durante o sexo são muito parecidas para todas as pessoas: aumento dos batimenos cardíacos, aceleração da respiração, alterações hormonais e emocionais. O ato sexual, que resultaria no orgasmo e na sensação de prazer, para alguns, pode ter um final desagradável, em que o indivíduo sente-se mal e tem vontade de chorar. Essa situação é chamada de disforia pós-sexo ou depressão pós-sexo.
 
Uma das pesquisas mais recentes sobre o tema foi realizada na Austrália em 2015. 230 mulheres maiores de 18 anos e sexualmente ativas participaram do estudo feito pela Universidade de Tecnologia de Queensland. A conclusão foi que 46% dessas mulheres já haviam experimentado essa sensação de melancolia após o ato sexual. 
 
Segundo relato do presidente da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, ao site UOL, a falta de estudos não permite classificar esse estado como uma síndrome ou uma disfunção sexual. Ele acrescenta que a ocorrência é maior em mulheres, na proporção de dois para um, porém ressalva que a falta de conhecimento das pessoas sobre sua própria sexualidade pode ser responsável por estatísticas mais baixas que o número real de quem convive com a disforia pós-sexo.
 
Se isso acontece com você e você acredita que é um sinal de insatisfação por causa do parceiro – indicativo de que a transa não foi boa ou que você não é tão íntimo dele – não se preocupe! Os especialistas dizem que a disforia pós-sexo é um sentimento comum e não está associado ao nível de intimidade do casal. Mas então por que isso acontece?
 
Essa sensação de tristeza, irritabilidade, agressividade, melancolia e choro pode ter uma explicação biológica. Após o sexo, o corpo libera grandes quantidades de substâncias relacionadas ao prazer, como a serotonina, a endorfina e a oxitocina. Depois desse pico de relaxamento físico e psicológico, o corpo pode interpretar a volta as condições normais desses hormônios como uma sensação de tristeza. Seria algo parecido com o efeito rebote das drogas, em que ao invés da sensação esperada, ocorre justamente o contrário.
 
Outras possíveis explicações para a depressão pós-sexo podem ser as crenças em relação ao sexo. Como esse assunto ainda é um tabu, principalmente se considerado pelo viés religioso, as pessoas podem sentir-se culpadas por terem prazer no ato sexual, o qual teria como único objetivo a procriação. Uma avaliação negativa sobre seu próprio desempenho na cama ou a não aceitação do seu próprio corpo também podem ser causas da disforia pós-sexo, assim como uma história anterior de abuso sexual. Os especialistas também desconfiam que as pessoas que sentem-se mal após o sexo podem possuir um padrão de comportamento sexual de possível vício, produzindo arrependimento após o prazer.
 
Tendo em vista as causas psicológicas citadas acima, os casais homossexuais podem enfrentar mais um motivo: o estigma de estar transando com alguém do mesmo sexo. Esse fator, que muito tem a ver com a religiosidade já citada anteriormente, estabelece a quem não se aceita que correto é o sexo entre um homem e uma mulher. Os homossexuais crescem em uma cultura heteronormativa, isto é, em que ser hétero é o mais aceito. Desde muito cedo as crianças são sexualizadas, como quando entram na escolinha e os pais dizem que qualquer criança do sexo oposto que seja próxima do filho(a) é seu(ua) namoradinho(a). A heteronormatividade é explicíta pois os pais nunca sugerem que o filho namora o amiguinho ou que a filha namora a coleguinha. Condicionados a crer que o sexo hétero é o ideal, os homossexuais podem sentir-se culpados por transar com alguém do mesmo sexo e, por isso, muitos enfrentam as sensações da disforia pós-sexo.
 
Se você já sentiu isso uma vez ou outra, tudo bem! Agora se você acha que essa sensação de tristeza e irritabilidade após o ato sexual é frequente, o melhor caminho é procurar um psicólogo. “Em situações de suspeita e incômodo, o ideal é observar como você está respondendo ao sexo e procurar um terapeuta para ajudá-lo.”, afirmou o sexologista e terapeuta sexual João Luís Borzino ao site UOL.
 
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