Ao analizarmos a história das conquistas LGBT’s, muito se destacam as turbulências pertinentes a todo um processo de transformação. Iniciado por volta dos anos 70, o movimento atendia primeiramente apenas às expectativas gays. Com o passar dos anos e com o avanço das conquistas da mulheres, as lésbicas também passaram a reivindicar seus espaços em movimentos de igualdade. O mesmo sucedeu- se com as travestis e transexuais, e as pessoas bissexuais. Assim formou-se a sigla LGBT, fazendo referência à Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros.
Como já diria Cazuza, o tempo não pára. Por esse motivo, vão surgindo novas identidades conforme as pessoas usufruem de espaços conquistados a duras penas pelo movimento LGBT. Com todo esse avanço e aumento de visibilidade, o mundo do consumo se adapta e cria uma necessidade de produção e marketing voltados para o público LGBT. Ao promover a diversidade, os lucros das empresas vão aumentando, independente se as mesmas apoiam a causa ou não.
Alguns consideram essa visibilidade em forma de marketing de consumo como uma maneira de fazer com que a sociedade aceite os LGBTs e os considere cidadãos comuns. Outros entendem que o movimento precisa tomar uma posição representativa sim, mas no meio político. E isso não necessariamente se refere às tribunas das assembléias, mas sim ao questionamento dos LGBTs existirem enquanto cidadãos com plenos direitos, com políticas públicas eficazes, que não se fazem apenas com comerciais de TV.
Do outro lado da moeda, o movimento tem suas contradições e desequilíbrios, como qualquer outro. A sigla LGBT engloga o T de transexuais no mesmo rol da sexualidade, quando na verdade, é uma questão de identidade de gênero. Quando de início do movimento, período chamado de primeira onda, por volta dos anos 60, acreditava-se que não existissem mais demandas de diversidade além dos gays. Foi então que os movimentos lésbicos começaram a surgir em 1980, causando uma certa aversão nos pioneiros do movimento. Nos anos seguintes, por volta de 1990, as pessoas trans começaram também a reivindicar seus espaços, dessa vez causando hesitação nos gays e lésbicas que já começavam a unir formas. Assim, sucessivamente, o movimento foi se configurando entre idas e vindas, hesitações e aceitações, até incluir os bissexuais.
Talvez por seu processo de definição um pouco resistente com as diferenças, hoje, nem todas as pessoas se consideram incluídos ou representados pelo movimento LGBT. Com a descoberta de novas identidades e possibilidades de se relacionar, o movimento tem o desafio de atualizar suas pautas reivindicatóras de acordo com demandas que se tornam cada vez mais específicas. Muito próximo do feminismo, o movimento LGBT tem sua própria sigla muito questionada para abranger as novas identidades, e começa a separar-se em vertentes. Alguns mais conservadores não associam a condição de sexualidade ou gênero a outros recortes socias com de raça e classe, aumentando o descontentamento popular.
Hoje, a cada 28 horas, um LGBT é assassinado no Brasil. O tempo é precioso na corrida pela vida, na tentativa de zerar esses números. Tanto o “L”, “G”, “B”, “T”, ou qualquer outra letra que venha a somar na sigla, precisa de medidas urgentes para suas necessidades. Não se trata apenas de representatividade em meios de comunicação ou debates, mas sim, da urgência pela vida de LGBTs em situação de vulnerabilidade.