O estudante de Direito Walace Miguel, 20, passou por um episódio de homofobia quando usava os serviços do aplicativo de transporte Uber, em Curitiba. O jovem solicitou um carro para levá-lo até sua faculdade nesta segunda-feira, no dia 6 de novembro, por volta das 18 horas, e ouviu comentários homofóbicos do condutor. Juliano, como é chamado o driver, teria alegado que Walace precisava procurar por tratamento com relação à sua homossexualidade. O motorista é um senhor de aproximadamente 50 anos, com cabelo grisalho e barba, que dirigia um veículo modelo Fox, na cor preta.
“Quando eu entrei no Uber, fiquei calado até o momento em que o motorista começou a falar comigo dizendo que era evangélico e que o mundo está perdido. Ele disse que o mundo tava cheio de viado que Jesus está voltando, disse que percebeu que eu era um quando entrei no carro e disse que eu deveria procurar tratamento. Citou um versículo da Bíblia dizendo que gays vão para o inferno”, disse o rapaz em entrevista à Lado A. Walace é morador da cidade de Araucária, região metropolitana de Curitiba. Sua viagem com o condutor homofóbico foi de aproximadamente 30 minutos até chegar ao seu destino no bairro CIC, em Curitiba. “Nunca passei por algo parecido”, disse.
Indignado com o ocorrido, Walace postou em um grupo de Facebook ´de motoristas e usuários da Uber em Curitiba que havia sofrido a agressão homofóbica. Logo em seguida, o jovem foi surpreendido por uma enxurrada de comentários preconceituosos vindas de motoristas e usuários. “Vou andar com uma lâmpada no porta-malas para garantir”, disse o motorista Davi Silva, referindo-se a um dos mais famosos episódios de homofobia do Brasil em que dois homens foram agredidos com uma lâmpada fluorescente. “Reclama no Ibama” foi o comentário de outro internauta, Matheus. Paula Maryanne, sem saber do ocorrido, disparou “No mínimo deu encima do driver e ele te deu um fora. Hoje tudo é homofobia, fala sério”. Estes e outros absurdos puderam ser observados nos quase mil comentários da postagem. Vale ressaltar, dentro desse contexto, que o Paraná registrou recorde de assassinatos de homossexuais em 2017, de acordo com levantamento do Grupo Gay da Bahia, 20 mortes apenas neste ano, até 08 de novembro.
A Uber foi patrocinadora da Parada da Diversidade LGBTI de Curitiba. Questionado se iria fazer boletim de ocorrência ou denunciar para a empresa de motoristas, Walace primeiramente disse que não quer levar o caso pra frente e apenas denunciou o motorista para a empresa. “Seria apenas mais uma denúncia, mais um boletim de ocorrência. Homofobia não é crime no Brasil”, disse o jovem constrangido com o ocorrido e com os comentários de sua postagem. Por outro lado, alguns internautas defenderam o rapaz, o incentivando a denunciar, e ele mudou de idéia e já está consultando seus professores de como proceder. O driver Idilson Felipe Júnior postou um comentário com a foto do interior de seu carro, no qual leva um adesivo que diz “Carro livre de discriminação”. Para o driver, os comentários são lamentáveis. “O preconceito da sociedade é algo que temos que lutar pois as pessoas já têm enraizado o preconceito nas suas atitudes e palavras. Então, acham natural as barbaridades que falam. Muitas vezes por falta de conhecimento mesmo.”, declarou o motorista do Uber no grupo.
Em casos de agressão e preconceito em virtude de LGBTIfobia é importante que seja feito um Boletim de Ocorrência, além de denúncias aos órgãos competentes de defesa dos direitos humanos e LGBT, por meio do disque 100, do Ministério dos Direitos Humanos.