A arquiteta Mônica Tereza Benício, companheira de Marielle Franco, passa por uma dura superação desde a perda da namorada. Vítima de assassinato, Marielle vivia com Mônica há um ano e meio em uma casa no Rio de Janeiro, mas já tinham construído mais de 13 anos de relação. O casamento estava marcado para setembro do ano que vem e as duas já estavam começando os preparativos.
A tragédia interrompeu os planos do casal e deixou em Mônica o desejo por Justiça, junto com a família de Marielle. A arquiteta declarou em entrevista ao Fantástico que a vereadora não tinha recebido ameaças, e que estava feliz cumprindo com seus trabalhos sociais e na política. “Eu ainda não consigo acreditar que ela não vai voltar pra casa. Eu ainda não consigo entender por que fizeram isso com ela.”, disse.
A vereadora
Marielle Franco era vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) e lutava pelas causas sociais, inclusive pautas LGBT. Ela nasceu na favela da Maré, no Rio, e conquistou seu mandato depois de muitos anos de militância e estudo. Socióloga e mestra em Segurança Pública, Marielle foi a quinta vereadora mais votada na cidade e vinha denunciando abusos de poder por parte dos soldados da intervenção militar no Rio de Janeiro, operação deflagrada pelo Governo Federal para conter a onda de violência na cidade.
O crime
Na noite de quarta-feira, dia 14 de março, Marielle Franco participava da roda de conversa “Mulheres Negras Movendo Estruturas”, evento que aconteceu na Lapa, centro do Rio. Ao sair do local, embarcou no carro conduzido pelo motorista Anderson Pedro Gomes, junto com sua assessora parlamentar Fernanda Chaves, que sobreviveu ao atentado. Após um percurso de quatro quilômetros, na rua Joaquim Palhares, no bairro Estácio, um outro veículo alcançou o carro da vereadora e fez vários disparos. Marielle foi assassinada com quatro tiros e seu motorista, Anderson, também morreu na hora atingido por três tiros nas costas, por volta das 21h30.
A companheira
Ainda em entrevista para a Rede Globo, Mônica contou entre lágrimas que esperava a companheira em casa quando soube da notícia. Minutos antes de morrer, Marielle enviou uma mensagem avisando que estava a caminho, dentro do carro, e perguntou se a namorada precisava de algo em casa. A arquiteta então começou os preparativos para receber a companheira quando estranhou a demora e ligou diversas vezes para Marielle, sem conseguir contato. Uma amiga do casal foi até a casa onde elas moravam e deu a notícia à Mônica. “Eu caí no chão porque eu não conseguia ficar em pé”, disse.
“Eu pensava porque eu não tava no lugar do Anderson. Porque eu não consigo entender o que eu vou fazer da minha vida sem ela agora”, disse Mônica. A declaração representa o sentimento inenarrável de alguém que perdeu não só uma companheira de vida mas também de luta. Marielle e Mônica se conheceram em uma viagem de carnaval com amigos em comum, e desde então construíram uma relação de 12 anos. Na época em que se conheceram sofreram muito com a hostilidade da homofobia e mantiveram o relacionamento escondido por algum tempo. A casa onde as duas moravam permanece pouco frequentada por Mônica, uma vez que cada detalhe da decoração foi planejado em conjunto com a namorada. Os preparativos do casamento que agora serão cancelados também afligem a arquiteta como mais uns dos lamentos e lembranças de uma relação tragicamente interrompida.
A morte da vereadora gerou comoção nacional. Diversas instituições e movimentos sociais prestaram solidariedade à morte de Marielle e Anderson, exigindo das autoridades uma minuciosa investigação. No entanto, a notícia que chocou o Brasil e o mundo despertou também diversos rumores falsos sobre a conduta de Marielle. Diversos grupos espalharam nas redes sociais informações inverídicas de que a vereadora seria afiliada ao crime e ao tráfico de drogas, uma vez que defendia os moradores das comunidades contra os abusos policiais. A família de Marielle junto com o partido da vereadora e os órgãos de justiça organizaram um mecanismo para rastrear e identificar mensagens e publicações falsas sobre o caso. “As pessoas estão colocando mentiras, cara. Minha mãe não era nada disso”, declarou Lyara, de 19 anos, filha da vítima. “Que respeitem a nossa dor, nosso luto. Só respeito, peço justiça e que parem de inventar essas coisas”, completou.