Documentário da época aborda morte de LGBTs no Brasil na década de 80

Em 1988, a cineasta e jornalista brasileira Rita Moreira lançou o documentário “Temporada de Caça”. No Brasil dos anos 80, a LGBTfobia foi explanada nessa produção e causou espanto pelas opiniões discriminatórias dos entrevistados. Em “Temporada de Caça” foi possível denunciar os assassinatos de LGBTs que aconteciam em massa no Brasil e eram pouco comentados. Agora, toda essa iniciativa está online e pode ser assistida por todos.

Em 1981, durante o regime militar, foi fundado do Grupo Gay da Bahia. A entidade se esforçou em defender a comunidade LGBT da dura repressão. A pouca informação com relação aos assassinatos da comunidade LGBT contribuíam para a invisibilidade dessas questões. Assunto pouco falado, a violência contra essa população ganhava cada vez mais força com a impunidade. Lembrando que até 1990 a homossexualidade era considerada uma doença mental pela Organização Mundial da Saúde.

Uma outra crítica do documentário é sobre a omissão dos meios de comunicação. Mesmo depois do fim da censura da Ditadura militar, a mídia continuava omissa em relação à violência sofrida pelos LGBT. Como grande influenciadora e formadora de opinião, o silêncio da mídia endossava o preconceito da época. Produções midiáticas de caráter discriminatório ridicularizavam e influenciavam o preconceito contra LGBT e negros.

Em um comparativo com os discursos LGBTfóbicos, Rita Moreira também reuniu influências pró-diversidade. Grandes personalidades da época como Gilberto Gil, Ester Goes e a ativista e escritora transexual Cláudia Wonder militaram em prol da comunidade LGBT. A classe artística da época teve bastante importância para endossar a luta das entidades LGBT que se formavam nos anos de 1980.

Movimento LGBT e HIV

As reuniões da comunidade LGBT para lutar contra o preconceito começaram em locais ocultos. Os famosos “guetos”, eram espaços pouco frequentados pela maioria da população, com bares e boates. Nesses locais vistos como perigosos, a população LGBT pensava em estratégias de conscientização e espalhava panfletos para reunir cada vez mais pessoas.

Dessas movimentações surgiram as primeiras publicações para o público LGBT. Fundado em 1979, o jornal Lampião da Esquina se dedicava em denunciar os casos de violência comumente ignorados pela população e Estado. Aproveitando a brecha da diminuição da censura proporcionada pelo enfraquecimento da ditadura militar, o jornal que era contra o regime queria alcançar outros espaços para a comunidade LGBT. Sair do gueto e tomar os espaços sociais que lhes era um direito eram reafirmados com frequência pelo jornal.

Uma outra iniciativa foi o jornal Chanacomchana, fundado em 1981. A publicação era distribuída em um bar para lésbicas situado no centro de São Paulo. Com os adeptos do jornal cada vez  mais populosos, o dono do bar proibiu a circulação e expulsou as lésbicas. Como o jornal já era amplamente conhecido dentro dessa comunidade, um protesto fez o dono do bar voltar atrás.

Todas essas iniciativas, no entanto, não duraram muito tempo. Com a explosão da epidemia da Aids na década de 1980, o movimento LGBT popular começou a perder cada vez mais força diante da repressão do Estado. Os grupos sociais foram minando e a sociedade usou a epidemia como mais uma justificativa para estereotipar e discriminar os LGBT. O movimento, no entanto, se reorganizou e voltou a ganhar forças com apoio principalmente do combate à Aids.

Rita Moreira

A cineasta Rita Moreira, responsável pelo documentário “Temporada de Caça” foi uma ativista lésbica da década de 80. Nascida em São Paulo, Rita produzia videos sempre com temáticas sociais como gênero e racismo. Estudou em Nova Iorque, na New School for Social Research e junto de sua esposa, a jornalista Norma Bahia Pontes, produziu o documentário “Mães Lésbicas”, em 1972.

Confira o documentário “Temporada de Caça”

 

 

Redação Lado A :A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa