Pascale Lemare, diretora responsável pelos processo de adoção na França, foi autora de declarações polêmicas. Durante uma entrevista na emissora de rádio France Bleu, a diretora disse que casais homossexuais só poderiam adotar crianças “com problemas”. Ao fazer essas afirmações, Lemare se referia às crianças deficientes físicas, mais velhas ou com limitações psicológicas ou seja: duplo preconceito.
O posicionamento de Pascale Lemare causou revolta nas entidades LGBT da região de Seine Maritime. Pascal Martin, do Partido União dos Democratas e presidente da região francesa, condenou as declarações de Lemare. Para ele, a orientação sexual dos pais não pode interferir no processo de adoção. Um outro posicionamento contrário partiu de Alexandre Urwicz, presidente da Associação de Famílias Homoparentais. Urwicz chegou a afirmar que vai exigir uma posição das autoridades competentes para que a atitude de Lemare seja devidamente punida.
Na participação no programa de rádio, veiculada em 18 de junho, Pascale Lemare afirmou sobre a dificuldade em permitir adoção para os casais gays. O programa então questionou sobre esse posicionamento quando Lemare foi incisiva na afirmação polêmica. Para a diretora, “há casais que correspondem melhor aos critérios”. Uma outra afirmação foi a de que “os casais do mesmo sexo são atípicos à norma biológica e social”.
Ao afirmar que aos casais gays estariam disponíveis apenas “crianças diferentes”, a apresentadora pediu explicações sobre o que isso significa. Sem pestanejar, Lamare disse que se trata das crianças que ninguém mais quer adotar ou que são “deficientes, mais velhas, ou com problemas psicológicos graves”. A responsável pelo serviço de adoção ainda concluiu seu posicionamento alegando que é normal que casais heterossexuais não queiram essas crianças.
Antes da entrevista com Pascale Lamare ser realizada, a rádio France Bleu procurou alguns casais homossexuais. Pelo menos três dos casais consultados confirmaram que Pascale lhes deu a única opção de adotar o grupo de crianças que geralmente são rejeitadas. Os casais afirmaram ainda que o critério da diretora é unicamente a orientação sexual dos pais, como se não fossem capazes de criar crianças saudáveis ou recém-nascidas.
Casamento e adoção na França
O casamento entre pessoas do mesmo sexo é permitido na França desde 2013. Apesar da grande conquista, a comunidade LGBT ainda precisou enfrentar alguns obstáculos para conseguir o direito da adoção. Pela lei do país, casais gays poderiam adotar, mas ao dar entrada no processo enfrentavam resistência dos órgãos governamentais.
Em fevereiro de 2013, quando o processo de legalização da adoção começou a tramitar, houve resistência. Algumas autoridades conservadoras ainda acreditavam, junto com parcelas da sociedade, que a função do casamento era a procriação. Entendia-se que a criação dos filhos só poderia ser legítima dentro de uma família formada por heterossexuais.
Em 2012, durante sua campanha eleitoral, o socialista François Hollande se comprometeu com a comunidade LGBT. Esse período foi de muita agitação social, grupos foram às ruas contra e a favor dos direitos de LGBTs. Ao se eleger, Hollande influenciou a conquista de direitos como casamento e adoção já no ano seguinte.