No lugar de receber uma boa indenização referente à ofensas transfóbicas, uma mulher transexual resolveu ensinar seus agressores sobre respeito. A professora Natalha Nascimento havia movido um processo contra a pastelaria Viçosa, localizada na rodoviária do Plano Piloto, em Brasília. Diante da grande violência sofrida pela professora, o 6º Juizado Cível de Brasília determinou que o estabelecimento pagaria uma indenização de R$20 mil reais.
Natalha relatou que em todas as vezes que passava pela pastelaria ou frequentava o local, era agredida. A mulher ouvia diversos xingamentos e humilhações, sendo que um funcionário chegou a agredi-la fisicamente. Natalha passava em frente à pastelaria a caminho do trabalho e um dia se cansou dos xingamentos. Quando foi até o estabelecimento para questionar o comportamento dos funcionários, ocorreu uma confusão que gerou a agressão.
Após ser intimada pela Justiça, a pastelaria Viçosa demitiu o funcionário agressor. Depois disso, o estabelecimento alegou que não deveria pagar a indenização pois Natalha não teria como provar as agressões. Por outro lado, a professora entrou em um acordo com a pastelaria, dizendo que abriria mão da indenização caso pudesse conversar com os funcionários afim de desconstruir o preconceito.
Marcado para sexta-feira, 24 de agosto, o encontro de Natalha com os funcionários aconteceu em um auditório no Fórum Desembargador José Júlio Leal Fernandes. A pastelaria conduziu até o local mais de 40 funcionários para assistir à palestra de Natalha. Para a professora, a única forma de desconstruir o preconceito é através da educação.
Durante sua palestra-aula, como ela preferiu chamar o encontro, Natalha abordou alguns temas. Assuntos como identidade de gênero, sexo biológico, direitos, violência e desigualdade foram discutidos. Como professora, Natalha usou de sua ferramenta de trabalho e habilidades para educar para a diversidade. Assim, ela considerou as agressões como um erro dos funcionários que precisava ser contornado através da pedagogia.
Violência
Um dos principais aspectos abordados por Natalha durante a sua palestra foi a questão da violência. A professora chegou a ser agredida por um funcionário que foi demitido pela pastelaria. O caso de violência física e verbal sofrido por Natalha não foi o único ou um dos poucos casos no Brasil. Segundo informações do Grupo Gay da Bahia (GGB), o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais. Por isso, a expectativa de vida de uma pessoa trans é de 35 anos. Até agora, já foram registradas mais de 250 mortes de LGBTs no Brasil. Desse número, 109 são mortes de pessoas trans.