Embora pouco divulgado, existem clínicas de recuperação que promovem a “cura gay”. Essas instituições são de cunho religioso, geralmente mantidas por essas organizações. A fotógrafa lésbica Paola Paredes já conseguiu entrar em uma dessas clínicas no Equador para entrevistar mulheres. Nesse processo, ela viu muitos tipo de abusos e agressões dentro das clínicas.
No Brasil, um dos casos é de um rapaz gay de Osasco, São Paulo, que foi internado em uma dessas clínicas pela família. O homem de 31 anos tratava de uma depressão severa quando começou a usar drogas e álcool. Em 2011 ele pediu ajuda à sua família que o internou em uma clínica mantida por uma igreja que a irmã dele frequentava.
O rapaz não era assumido quando a sua orientação sexual quando foi internado. Contudo, sua família já suspeitava da homossexualidade do rapaz e não aceitava. A depressão inclusive se desenvolveu devido à pressão homofóbica que sofria dentro de casa. Viciado em drogas, o homem foi internado à força por seu pai e irmão na clínica evangélica.
Em seu relato ele conta que sofreu vários traumas na instituição. Seu depoimento descreve atrocidades que também foram vistas pela fotógrafa Paola Paredes. Segundo o pastor dono da clínica em que o homem ficou internado, os pacientes eram tratados para deixar o vício e a homossexualidade.
Estupro e suicídio
Dentro da clínica aconteciam abusos sexuais por parte dos encarregados de cuidar dos pacientes. O rapaz de Osasco contou que foi obrigado a fazer sexo oral em troca de poder dormir e até comer. Além disso, ele era agredido fisicamente assim como outros pacientes. Muitas vezes, em público, os internados eram agredidos até perderem a consciência.
Na clínica para mulheres, Paola Paredes descreveu outras atrocidades. Após meses de entrevista, ela fez ensaios fictícios imitando a rotina torturante dessas clínicas. Mulheres lésbicas sofriam estupros corretivos, isto é, eram obrigadas a manter relações sexuais com homens. Ela também conta que obrigavam essas mulheres a vestirem roupas curtas, saltos, esmaltes e maquiagens para desenvolver a feminilidade. Tanto na clínica feminina quanto na masculina em que a outra vítima ficou internada, não se podia comunicar com pessoas do mesmo sexo.
Cansados das torturas, muitos pacientes se suicidavam fora das clínicas. Dentro das instituições, até os banheiros não tinham portas para que os pacientes não usassem o espaço para se matar. Muitas vezes as famílias não sabiam das agressões, pois acreditavam nas versões dos pastores dizendo que a vítima estava louca ao descrever os abusos.
A homossexualidade deixou de ser considerada doença em 1990. Naquele ano, a Organização Mundial de Saúde retirou essa condição do rol dos doentes mentais. Mesmo assim, a homofobia institucional continua torturando homossexuais e acreditando que eles podem ser “convertidos”. Dentro das instituições religiosas ainda impera o discurso que discrimina homossexuais. Esse processo aumenta a homofobia na medida em que a religião e igrejas têm forte influência sobre a população.