O ex-deputado Jean Wyllys falou sobre política e homofobia no Brasil em uma palestra na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. O ex-parlamentar eleito deixou o cargo no Congresso Nacional e saiu do Brasil temendo as ameaças que recebeu. Após e eleição do presidente LGBTfóbico Jair Bolsonaro, Wyllys que tanto lutou pela cidadania de LGBTs precisou deixar o cargo e o país vítima do ódio contra as minorias.
De origem humilde, Jean Wyllys começou sua trajetória política em 2010 quando foi eleito pela primeira vez para começar seu mandato no ano seguinte. Abertamente homossexual, Wyllys sempre lutou por seu espaço e contra a homofobia desde quando morava na sua cidade natal, Alagoinhas, na Bahia. Lá, o ex-parlamentar contou que teve o primeiro contato com a homofobia, quando era chamado de “veado” no meio social.
Após participar do reality show Big Brother Brasil, Jean ficou conhecido. Ele venceu a edição e recebeu um bom prêmio em dinheiro. Jornalista, investiu na carreira acadêmica e logo adentrou na política. Wyllys considera que sua atuação em prol da comunidade LGBTI+ e das demais minorias incomodou o rol conservador da política brasileira.
Jean ilustrou a homofobia na política com sua própria trajetória. De acordo com o ex-parlamentar, ao chegar no espaço de poder, foi recebido com desdém até por aqueles que dizem ser contra a homofobia. Para o ex-deputado, ser homossexual é permitido apenas enquanto essas pessoas não ocupam espaços de destaque. “Afinal de contas, quem estava a falar [no parlamento] era um veado. Talvez só as mulheres e os negros tenham uma ideia do quão difícil é ser ouvido.”, disse.
Bolsonaro e fake news
Jean contou ainda que os primeiros a começar uma perseguição contra o então parlamentar foram os Bolsonaros. O atual presidente, enquanto ainda era deputado, insultava diretamente Jean Wyllys. Além disso, os mandatos de Jean foram cercados de fake news. Algumas delas chegavam a ligar homossexualidade com pedofilia.
Mesmo com os obstáculos que recaíram sobre ele por conta de sua sexualidade, Jean lutava pela cidadania de pessoas LGBT+. O então parlamentar enfrentava os detentores do poder no que ele chama de “velha política”. Diante de um parlamento formado, em sua maioria, por homens heterossexuais e brancos, a presença de Wyllys causava incômodo. Mais tarde, o conservadorismo endossado pela admiração de ideologias fascistas, violentas e discriminatórias resultaria na perda de um dos maiores ativistas de Direitos Humanos da política brasileira.
Antes mesmo do período de campanhas eleitorais de 2018, Wyllys já recebia graves ameaças de morte. Em março deste mesmo ano, a vereadora Marielle Franco, do mesmo partido que Jean, foi brutalmente assassinada junto com seu motorista Anderson Gomes. Marielle, assim como Wyllys, era LGBT e lutava pelo direito das minorias.
A morte da vereadora foi tratada com deboche por boa parte da política conservadora, inclusive, pelos Bolsonaro. Com as campanhas políticas se aproximando e o crescimento de Jair Bolsonaro com seu discurso violento, Wyllys esteve cada vez mais acuado.
Ameaçado de morte por diversas vezes, o ativista decidiu deixar seu cargo em 2019 e sair do Brasil. Mais uma vez, a atitude foi comemorada pelos Bolsonaro. Eles viram com naturalidade um parlamentar eleito abdicar de seu mandato temendo pela própria vida. Tal atitude confirmou o grande atentado contra a democracia.
Por outro lado, as eleições de 2018 trouxeram chance para a comunidade LGBT com outros ativistas. Muitos políticos que lutam pelos Direitos Humanos e LGBTI+ conseguiram se eleger e estão dispostos a fazer uma forte oposição. Além disso, David Miranda (PSOL) será substituto de Wyllys. O novo parlamentar também é assumidamente gay, defensor dos Direitos Humanos e negro.