Antes da colonização do continente americano, os povos que aqui habitavam poderiam reconhecer até cinco gêneros. É o que diz o site India Country Today, mantido por povos indígenas. Segundo informações da plataforma, as concepções de gênero da forma que existem hoje foram uma imposição dos colonizadores.
As identidades de gênero e sexualidades mudavam de acordo com cada grupo indígena. Na América, antes da colonização, era enorme a diversidade de tribos e etnias. Apesar das diferenças, todos os indígenas reconheciam vários gêneros e não entendiam as questões de sexualidade como os europeus interpretavam, geralmente baseados em religião. Um exemplo dessa diversidade é o grupo Navajo, que reconhecia quatro gêneros. Os gêneros reconhecidos eram mulher masculina, mulher feminina, homem feminino, homem masculino e não-binário.
Para esses povos nativos, a variedade de gênero e sexualidades era admirável do ponto de vista espiritual. Uma pessoa que se identificasse com vários gêneros, era considerado alguém com “dois espíritos”. Dessa forma, essa pessoa seria dotada de poderes e sensibilidades sobrenaturais. Porém, o termo “dois espíritos” só foi adotado em 1990 por indígenas descendentes desses povos antigos.
Após a colonização européia no continente americano, no entanto, todo esse quadro mudou. As identidades de gênero e sexualidades exercidas pelos indígenas foram reprimidas assim como vários outros elementos culturais. De acordo com a tradição européia, baseada em princípios religiosos, somente seria possível a existência do sexo masculino e feminino. Além disso, os europeus também trouxeram a obrigatoriedade da heterossexualidade.
Resgate
Desde os anos de 1960, povos indígenas tentam recuperar essa cultura do gênero múltiplo. No entanto, o movimento só cresceu a partir dos anos de 1990. Estudiosos atuais tentam não interpretar essas culturas com um olhar ocidental. Um exemplo disso é não associar a sexualidade daqueles povos às interpretações que temos hoje como homossexuais e bissexuais.
Como resgate dessa cultura antiga, esses povos norte-americanos descendentes dos antigos indígenas tentam se despir da cultura europeia. Um exemplo disso é não estabelecer limites para as identidades de gênero e sexualidades possíveis. Assim, é muito ofensivo para esses povos que alguém de sua comunidade viva em desacordo com a sua identidade de gênero ou sexualidade.
Apesar de os povos descendentes dos nativos tentarem regatar a cultura, a opressão europeia deixou vestígios. Um estudo publicado no “American Journal of Public Health” mostrou que, em 2014, o número de suicídio entre LGBTs indígenas era maior do que entre outras minorias sociais.