Lúcido aos 92 anos de idade, o pastor anglicano Stanley Underhill falou sobre sua homossexualidade à apresentadora Emily Webb, do programa Outlook, da BBC. Apenas em 2018 ele revelou para sua família quer era gay, aos 91 anos de idade. “Nasci homossexual. Não foi uma escolha. Passei boa parte da minha vida desejando ter nascido hétero”, afirmou o religioso que nasceu em uma época que ser homossexual era considerada uma “aberração”.
“Eu cresci em um mundo hostil, fanático e ignorante, cheio de preconceitos, pobreza e distinções de classe”, afirma ele no livro Coming out of the Black Country (Em tradução livre, Saindo do Armário de West Midlands).
“Conscientemente reprimi e neguei minha homossexualidade — para mim mesmo, para os outros e para Deus. Eu não sabia quem eu era. Tinha esses sentimentos, mas não era capaz de explicá-los, e ninguém tinha explicado para mim. Como você sabe, a palavra homossexual não fazia parte do nosso vocabulário”, contou ele que nasceu em 1928 e era filho de um operário que não tinha muita intimidade com o filho. A sua educação foi rígida e assunto sexo sempre reprimido em casa.
Underhill conta ainda que era vítima de bullying na escola e que percebeu desde cedo que sentia atrações por outros homens. Durante a Segunda Guerra, na Marinha, aos 18 anos de idade, Underhill foi enfermeiro e foi em um incidente ao desmaiar com a quantidade e sangue de uma paciente, que ele viveu seu primeiro grande amor. “Quando abri os olhos, encontrei-o (Alex) olhando para mim. Ele estava me dizendo algo. Não ouvi o que ele me disse. Mas nossos olhares se encontraram, e eu me apaixonei.”
Após a guerra, ele e Alex decidiram morar juntos e então o companheiro o abandonou para viver com uma mulher, após ler na Bíblia que o amor entre os dois era pecado. O amor entre os dois continuou secreto e Underhill chegou a ser padrinho do casamento do ex companheiro. Alex então o convenceu a fazer uma terapia de conversão, para deixar de ser gay, e isso afetou ainda mais sua auto estima e o fez pensar em suicídio.
Sua fama de homossexual e do tratamento fracassado se espalharam e aos 30 anos Underhill voltou à casa da mãe. Ele então se mudou para Londres onde se relacionou com outros homens e virou sócio em um escritório de contabilidade. A perseguição no trabalho por conta da sua sexualidade e as decepções amorosas o fizeram pensar em se tornar pastor.
“Fiquei fascinado pela representação de Jesus nos Evangelhos, como um homem que resistiu aos instintos tribais e defendeu o oprimido”, afirma o pastor que levou uma vida no armário dentro da igreja e hoje se diz livre ao viver em um lar para idosos em Londres.
A Igreja Anglicana ordena bispos gays desde 2011.