A Assessoria de Políticas da Diversidade Sexual, da Prefeitura de Curitiba, recebeu este ano dois prêmios das mais importantes organizações não governamentais de defesa dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) da cidade: o Grupo Dignidade e o Transgrupo Marcela Prado. Nos últimos anos, a cidade com fama de conservadora se tornou mais inclusiva para esta comunidade, com direito à iluminação da icônica estufa do Jardim Botânico com as cores do arco-íris e o hasteamento de uma bandeira do movimento gay em um prédio público da cidade. As duas ações, inéditas, marcaram o 17 de maio, Dia Internacional de Combate à LGBTfobia e o dia 28 de junho, Dia do Orgulho LGBT.
Todo o trabalho foi coordenado pelo jornalista e militante Allan Johan, fundador da Lado A, que assumiu a pasta desde sua criação, em março de 2017. De lá para cá, a assessoria desenvolveu ações e projetos que impactaram diretamente nesta comunidade. Dentre os trabalhos, está o monitoramento de casos de violência contra a população LGBTI, que resultou na criação do Relatório Anual de Diversidade Sexual e LGBTfobia de Curitiba, que este ano terá a sua terceira edição. O relatório traz dados do 156, da Saúde, da Secretaria Estadual de Segurança, do Disque 100, além dos casos atendidos pela própria assessoria que anualmente recebe mais de 100 denúncias. Sempre perto da comunidade, a assessoria participou intensamente de campanhas e ações promovidas pelas organizações civis da cidade.
A cidade conta com três grandes marchas e paradas LGBTI ao longo do ano, promovidas por organizações não governamentais, em parceria com o município. Uma campanha sobre respeito e inclusão, no ano passado, quebrou mais uma vez barreiras: uma travesti participou de uma ação de comunicação oficial do município pela primeira vez na história.
Seis projetos foram criados e desenvolvidos por Johan com base no Plano LGBTI, deixado pela Conferência Municipal LGBT de 2015. O Cidadania T, de empregabilidade de travestis e transexuais, realizou cursos e promoveu ofertas de trabalho para as pessoas trans, chegando a um resultado de 70% das pessoas inscritas tendo alguma experiência de trabalho formal durante o projeto.
O projeto HIV Jovem ajudou a colocar Curitiba na vanguarda da prevenção às infecções sexualmente transmissíveis entre jovens gays. A assessoria trabalhou em parceria com a Saúde, apontando as demandas da comunidade, como a criação de uma clínica em contraturno para testes e exames, além de promover mais agilidade para que as pessoas não ignorassem o tratamento após o diagnóstico. A Assessoria criou com a Secretaria da Saúde uma campanha e um material educativo voltado para os jovens homossexuais, com linguagem e abordagem inovadora. A campanha permanente curitibana é uma das poucas no país que aborda o tema HIV durante todo o ano. O retorno do Comitê de Saúde Integral LGBTI e de grupos de apoio foram articulações feitas pela Assessoria.
O programa Laços de Família por dois anos zerou os casos de adolescentes expulsos de casa por serem LGBTI, promovendo a formação dos conselheiros tutelares sobre o tema e criando um protocolo de atendimento inédito no país. Johan ainda acompanhou de perto os casos mais complicados, dando suporte ao Conselho Tutelar. O projeto foi indicado ao Prêmio Construir Igualdade da UNESCO e foi desenvolvido em parceria com a equipe técnica do Conselho Tutelar, formada por pedagogo, assistente social e psicólogo.
No ano passado, Curitiba ganhou os Jogos da Diversidade, um evento desportivo organizado pela Secretaria de Esportes e Juventude, em parceria com a Assessoria, em que a diversidade sexual foi celebrada com artistas, atletas e público, com mais de mil participantes. Os jogos fazem parte do projeto DiverCidade, de promoção da diversidade dentro e fora da prefeitura. Internamente, o projeto Unidades Modelos criou uma Rede de Proteção às Pessoas LGBTI na Prefeitura e articulou junto a um grande banco e uma ONG local a formação de mais de 150 funcionários do município ao atendimento da população LGBT, somente no último ano.
O pré Carnaval da cidade, que estava prestes a ser proibido em 2018, com a notificação de alguns blocos, teve como principal defensor Johan, dentro da Prefeitura. O assessor interveio para o entendimento de que era uma manifestação popular com muitos LGBTI, por isso, a assessoria tomou frente da organização do evento naquele ano.
Outra ação do assessor foi a movimentação de um grupo de LGBTIs jovens que fazia encontros de frente a um prédio residencial na Alameda Dr. Muricy. Depois de inúmeras ações policiais e reclamações de moradores, o grupo foi convencido a mudar de local. Conversando com os participantes, a polícia e associações, o grupo foi levado até o Cavalo Babão, que virou um ponto de encontro de jovens, sobretudo LGBTI, aos finais de semana.
Até as trilhas do Parque Barigui, que estavam abarrotadas de preservativos e embalagens, foram limpas por intervenção do assessor, que solicitou a limpeza à secretaria Municipal do Meio Ambiente. No entendimento de Johan, “promover a dignidade sempre traz mais dignidade, é uma corrente”.
Se Curitiba antes tinha fama de uma cidade conservadora e preconceituosa, hoje ela caminha para ser mais inclusiva. Curitiba é a cidade com mais projetos para a comunidade LGBTI no país, atraindo olhares para uma gestão inovadora em Direitos Humanos.