“Posição” é o primeiro EP de música gospel feito por uma pessoa trans no Brasil. Lançado por Manoela Stellfeld, de Curitiba, o álbum tem cinco músicas, todas originais, compostas por ela e amigos. O material foi gravado durante a pandemia e em breve será gravado em estúdio. Mas a cantora de 24 anos já se apresenta esta semana na inauguração da Igreja da Comunidade Inclusiva LGBTI Abraça-me, de Curitiba, e está com a agenda cheia de compromissos.
Nascida em berço católico, em Guarapuava, no interior do Paraná, ainda criança ela passou a frequentar igrejas neopentecostais quando a família se mudou para São José dos Pinhais. Hoje, ela vive no bairro do Boqueirão e trabalha como cabeleireira. Em 2013, ela abandonou a igreja evangélica tradicional por sofrer preconceito. Foi na comunidade inclusiva que ela encontrou Deus, aceitação e a felicidade.
“Sofri bullying na escola, terminei o ensino médio com muita dificuldade. Venci a depressão, tomei remédios, tentativas de suicídio, já passei por tudo isso. Quero levar a minha música para inspirar as pessoas, quem sabe não surjam mais cantoras trans gospel por aí”, falou ela com exclusividade para a Lado A.
Manoella conta que sempre se identificou como trans, desde criança, que era um rapaz afeminado, com gostos por coisas de mulher. “Mas diziam que eu tinha que mudar, que era o demônio e eu não conseguia. Sofri muito, não dormia a noite. Sonhava em ser livre, liberta”, conta ela sobre a pressão psicológica que sofria no meio religioso, apesar de sua família sempre ter aceitado tanto quanto um gay afeminado.
Aos 23 anos, ela se assumiu trans, finalmente, graças a uma rede de apoio que construiu para isso entre amigos, familiares e na profissão. “A igreja inclusiva me aceita bem, me encontrei. Sei que posso adorar a Deus sendo quem eu realmente sou de verdade!”, comemora a mais nova cantora do gospel nacional.
As músicas de Manoella trazem uma fé sincera, humilde, cheia de devoção e esperança. Confira o trabalho: