Polêmica de protesto com travesti crucificada marca parada gay de SP

Não reproduza a homofobia alheia. Em 2012, a revista Placar ostentou uma capa com o jogador Neymar sendo “crucificado” por conta de sua má atuação pela seleção e apesar de nota de repúdio da Confederação Brasileira dos Bispos do Brasil, a polêmica criada não foi tanta quando a imagem do protesto da modelo travesti Viviany Deleboni, 26, neste Domingo na 19ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. Chamado de desrespeito por cristãos conservadores, entre eles até muitos gays, o protesto tinha como objetivo lembrar que a homofobia é cruel e movida em parte por preconceitos religiosos. A cruz dos LGBTs é pesada, bem como a reação a uma imagem icônica religiosa, sendo usada como protesto legítimo pela gaúcha.

“Até um reporter que NÃO é do meio entendeu que representei todas as mortes agressoes que vem acontecendo contra classe glbt , também por falta de leis, e os gays próprios gays do meio que já viram e veem casos de agressões de amigos travestis falando mal (…) eu fui e dei minha cara a tapa, não me importo com comentário de vocês dessa classe glbt DESUNIDA, sempre foi assim já sabia que iria acontecer isso, acharam muito FORTE AGRESSIVO, como se agressão saísse purpurina do corpo e confete invés de sangue e hematoma, Jesus morreu por todos e foi HUMILHADO MOTIVO DE CHACOTAS AGREDIDO E MORTO, que é oque vem acontecendo diariamente com GLBTS, por não termos leis, gente ignorante que não entende arte e acha que parada gay e só ir cheio de brilho e com rabo pra fora carnaval fora de época é mais bonito do que fazer um protesto da REALIDADE que vivemos” desabafou ela em seu perfil no Facebook. Para ela, se fosse um homem sarado sem roupa os próprios gays teriam apoiado mais a sua manifestação.

O pastor e deputado federal Marco Feliciano considerou a imagem um sacrilégio e postou a imagem de outras cenas de gays com cruzes de outros protestos para defender seu ponto de vista. “Imagens que chocam, agridem e machucam. Isto pode? É liberdade de expressão, dizem eles. Debochar da fé na porta denuda igreja pode? Colocar Jesus num beijo gay pode? Enfiar um crucifixo no anus pode? Despedaçar símbolos religiosos pode?  Usar símbolos católicos como tapa sexo pode? Dizer que sou contra tudo isso NÃO PODE? Sou intolerante né?”, afirmou o deputado falando mais das outras imagens que ele postou do que o protesto em questão.

A foto polêmica de um dos trios do evento vai ser a grande discussão da semana e roubou a cena do evento que reuniu mais de 2 milhões de pessoas. Ousada por expor de maneira visceral a questão da homofobia motivada pela fé, o exemplo de Cristo que morreu por todos e não apenas os cristãos, força uma discussão importante sobre as raízes do preconceito homofóbico e a hipocrisia da nossa sociedade. Como arte, causou a catarse, a discussão, e cumpriu o seu papel. Em um país onde feriados religiosos são obrigatórios a todos os cidadãos, não se pode dizer que foi um sacrilégio. Podemos até dizer que a travesti levou Deus a um evento não religioso, assim como diversos grupos evangélicos gays e não gays que estavam no local.

A imagem é forte e resume bem a celeuma de alguns homofóbico e conservadores religiosos do país que ganha apoio de alguns gays que não entendem a importância do protesto contra a homofobia. Assim como se o comercial do Dia dos Namorados do O Boticário tivesse um beijo gay iria contra muitos gays que afirmariam que era apelativo e agressivo, mesmo assim teve uma repercussão dos homofóbicos como se tivesse sido algo desrespeitoso aos seus valores, veremos a imagem da Viviany ganhando mais proporções do que o imaginado. E onde fica o “Não julgueis para não ser julgado?”, pelo visto muito longe das ações daqueles que se dizem tão seguidores de Cristo. Para eles, Deus não está em todos os lugares.

 
Redação Lado A :A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa