Uma campanha publicitária com exposição de fotos em um shopping de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, teve imagens censuradas pela administração do estabelecimento. A mostra fazia parte do trabalho da fotógrafa Paula Saldanha Werlang, de 20 anos, e continha um casal gay representando a luxúria da exposição intitulada “Os Sete Pecados Capitais”.
A estudante responsável pela exposição de fotos é amiga do casal de namorados Brendon Lopes e André Policena, também de 20 anos de idade. O trabalho de Paula faz parte de um projeto acadêmico do curso de Fotografia da Universidade de Santa Cruz do Sul e não apenas um, mas três retratos com a imagem do casal foram o motivo de uma notificação que a estudante recebeu da gerência do Shopping Germânia para que ocultasse as peças.
Na manhã do dia 24 de novembro a exposição foi montada antes do expediente do local e faria parte da mostra até o dia 26. Em poucas horas, a gerência solicitou a retirada dos quadros com as imagens de Rafael e André sob o argumento de que “as imagens escolhidas para ilustrar o pecado da luxúria poderiam sujar a imagem do shopping perante os frequentadores”, segundo a estudante. O shopping teria alegado ainda que os clientes reclamaram das fotos e que o local tinha que sustentar uma posição neutra quanto às questões de gênero e sexualidade.
Inconformada com a censura, Paula aceitou o convite de uma loja igualmente sensibilizada que ofereceu sua vitrine para os retratos advertidos. Mais uma vez e em poucos minutos, a gerência solicitou novamente a retirada das imagens, mesmo dentro da área de uma loja. “Fiquei arrasada e muito surpresa”, disse a fotógrafa.
“Acho que se você se importa tanto com a vida de outra pessoa, é porque a sua está precisando de cuidados e reparos”, diz Brendon, um dos modelos da mostra. Ele e o namorado, André, acreditam que a censura de suas imagens foram mais um caso de preconceito, o que os dois afirmam já estarem acostumados a viver, uma vez que já foram diversas vezes reprimidos em função de sua sexualidade.
Para o professor de direito Edson Botelho Silva Júnior da Universidade de Santa Cruz do Sul, a mesma em que Paula desenvolve seu projeto, “o tratamento que você dá a um casal homoafetivo tem que ser o mesmo que você dá a um casal hétero.”. O professor entende que, se uma imagem com casais héteros, como aparece constantemente em diversas campanhas publicitárias, nunca sofreu nenhum tipo de retaliação, o mesmo deve acontecer com campanhas de casais homossexuais. “É fácil ser hétero. É a expectativa de um padrão estabelecido. Artista não tem padrão, é livre. Não espere uma exposição de arte que esteja dentro do padrão.”, explica.
O shopping Germânia continua com a posição de que as imagens foram retiradas a pedido de clientes. O estabelecimento afirma que, como comércio público, deve se manter neutro com questões de diversidade sexual, o que não significa que o público LGBT não seja bem vindo no local. O shopping ainda teria usado o fluxo de crianças como argumentação para censurar as peças.