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Ficando mais velho

Redação Lado A 02 de Junho, 2006 08h35m

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O tempo exerce em todos um fato incontestável, nós envelhecemos. Mas não apenas envelhecemos como também ficamos mais experientes, mais seletivos. Mas é inevitável dizer que a idade traz um pouco de saudosismo, o corpo fica mais pesado, a memória falta e a vontade é de ficar na cama. Calma! Tenho apenas 26 anos mas isso é o que dizem sobre envelhecer. Eu tenho estado tão impressionado com isso que até percebi que menos de 10 anos são suficientes para “ficar velho”.


 


Um amigo e eu, durante o intervalo da faculdade, criticávamos as boates que não são mais as mesmas. As músicas que não evoluíram, que os gays só querem saber de oba-oba e nada de seriedade. Em determinado momento, percebi que nós fomos um dia tudo aquilo que a gente criticava, que já fomos fúteis, inconseqüentes e alienados.


 


É verdade, envelhecer tem as suas vantagens. Certa vez, entrevistei o ator curitibano Ary Fontoura e ele me falou assim: “antes eu era quantitativo, hoje eu sou qualitativo”, e é mais ou menos assim que acontece. Quando se é jovem você quer mais e mais e quando você vai amadurecendo você quer melhor e melhor.


 


Acredito que a grande ‘sacada’ de envelhecer bem não é se estressar com os anos que passam, mas trabalhar para que você envelheça com saúde, qualidade de vida, a fim de manter uma boa saúde mental e física na terceira idade. Para isso, parar cedo o cigarrinho e as bebidas, se alimentar direito e  praticar exercícios são atitudes essências. Trabalhar e estudar são hábitos que devem acompanhar a vida de um homem. E o principal: buscar fazer o que gosta e fazer tudo com muito prazer.


 


Para os homossexuais envelhecer significa uma palavra muito pesada. Os velhos gays estão nas saunas, muitos pagam por sexo, são dinossauros no mundo das boates com as “bibas” novas que não param de aparecer. Eu que acompanho essa cena há uns 10 anos, sou considerado um “dinossauro” para não falar a maneira desrespeitosa com que os gays novos se referem aos “mais velhos”. É um ciclo sem fim de substituição e valorização do gay jovem, “puro” e bonito.


 


Enquanto o casamento gay não for uma realidade, o status máximo na comunidade continuará a ser o do solteiro, viril e bonito. E a promiscuidade será incentivada, assim como a vida dupla, enquanto as famílias não aceitarem os gays, será mais fácil mentir. E por aí aqueles assumidos, com namorados, afeminados, fashions, idosos, estarão nadando contra a maré da indiferença, no fim da margem social. Pois no mundo da Barbie, ela é sempre linda, burra e popular. E não há lugar para modelos mais antigos.


 

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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