Aconteceu na Rua 24 horas em Curitiba

Redação Lado A 24 de Janeiro, 2007 12h55m

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Mais um incidente na antes cheia de glamour Rua 24 horas. Ponto turístico da capital paranaense, que um dia ostentava a suposta vanguarda de ter uma rua de funcionamento interrupto. Hoje, não passa de um bando de botecos e ponto de encontro de perdidos da madrugada.

O local deixa a desejar em segurança, poucos pontos abertos durante os horários mais tardios e nenhuma beleza e manutenção. A Rua, decadente, é ponto de encontro de usuários de drogas, transeuntes, desabrigados e, claro, de pessoas decentes, moradores da região, que ficam sem opção de lugar para lanchar após as 22h. Existem, também, os turistas, enganados pelas belas fotos dos postais da cidade que mostram um lugar moderno e seguro.

Gays são comumente discriminados no local, muitas vezes por skinheads e homofóbicos e não obstante pelos próprios funcionários do lugar. A Guarda Municipal, instalada em um posto ali dentro não consegue manter a ordem na galeria que ocupa um ponto imobiliário valorizado mas que não tem mostrado mais nenhum retorno positivo para a cidade.

Dois jovens universitários, namorados, saíram na noite do último sábado, e marcaram encontro com amigos na Rua 24h. Sentaram em um dos bares da Rua, bebiam chope, conversavam, e esperaram os amigos. Interpelaram o mesmo garçom que os havia atendido se haveria algum tipo de petisco. O garçom afirmou que não. Não satisfeitos e incomodados com o fato do estabelecimento não oferecer nada para comerem, pediu o cardápio. Ao contatar que havia no menu uma carta de porções de petiscos, solicitou a presença do outro garçom do lugar que escolheram e criticou a atitude do outro atendente.

“Este garçom não serve para trabalhar aqui, você deveria demiti-lo, pois ele não sabe atender pessoas com presteza.” O garçom, ao invés de esclarecer o ocorrido, passou a retrucar os clientes: “No mínimo vocês devem ser paranaenses, pois eu sou carioca”. Em seguida aconteceu bate- boca entre as partes: “Eu sou nordestino estou aqui somente para fazer o meu mestrado e o meu amigo é de Blumenau. Achávamos que Curitiba era a cidade modelo Brasil, que tantas pessoas falam, mas estou decepcionado”. Passando do insensato para o surreal, o servente passou a ameaçar, xingar e chamar para briga o casal de namorados.

Retrucando as ofensas, um dos rapazes devolveu a ofensa proferida à sua mãe, já que, no Nordeste, falar mal da mãe do outro é coisa séria. Então, o garçom passou a agredir um dos rapazes, acertou um soco lateral em seu rosto, enquanto o outro separava a briga, levando o funcionário abalado para dentro do bar, apartando a confusão.

O rapaz envolvido na briga foi para casa enquanto os amigos e o companheiro ficaram no local aguardando a polícia. O garçom afirmou que o rapaz o chamou de negro, fato que o universitário nega veementemente , por vir do Maranhão, onde negros são maioria da população. A Guarda Municipal ainda ajudou a safar a cara do garçom, afirmando que ele estava sendo incomodado em seu trabalho.
 
Chegando a esta conclusão, sem mesmo ter presenciado a cena. Pois, no momento da briga, o posto da Guarda que ficava há poucos 50 metros dali estava vazio e uma cliente, amiga dos rapazes, foi até o posto da PM, na Praça Osório, pedir socorro.

Este rapaz foi mais uma vítima do preconceito. Não sei se por ser nordestino, ou por ser homossexual, já que os trejeitos e pronuncias podem entregar muitos gays – mesmo que eles não queriam. Fico indignado por ser mais um caso de violência dentro de um local público, que ainda tem a colaboração da omissa guarda municipal. Mais uma vez.

Já denunciamos diversos casos mais explícitos de violência contra gays em razão da orientação sexual. É preciso um basta. É preciso preparo dos servidores públicos, dos comerciantes, daqueles que conseguem um alvará de atendimento (vale verificar a autorização deste estabelecimento, já que o dono do bar mudou há pouco tempo). É preciso que a Prefeitura se sensibilize, os senhores vereadores, deputados, e criem uma lei que proteja os homossexuais. Basta de violência! Basta de incompetência! Curitiba está em ruínas, uma cidade-fantasma, onde sobraram as pessoas, e se foram as almas. Pessoas sem coração.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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