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Pelo fim do reducionismo sexual

Redação Lado A 29 de Novembro, 2007 17h49m

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Em tempos em tempos, o próprio movimento homossexual esbarra em uma questão que reforça preconceitos e fortalece o conceito pregado pela sociedade de que existem grupos distintos quando o assunto é sexo. Se você faz sexo com pessoas do mesmo sexo que o seu, você é homo; Se faz com o sexo diferente, é hetero; Se faz com os dois, é bi. Essa classificação nasceu na Grécia antiga, onde tudo era rotulado para que o homem também pudesse ser colocado como tipo “especial” entre as espécies.


A questão sexual já foi alvo de muitas teorias e pesquisas, todas elas apelando para a prática do reducionismo da diversidade humana e principalmente para o maniqueísmo, tentando classificar como bom ou ruim qualquer ato sexual. Compreensível vindo de uma sociedade que há quase dois mil anos tem a junção carnal comparada ao ato sexual dos animais e vive com o pudor de fazer sexo e gozar. Infelizmente essas divisões repartem a humanidade e invariavelmente caem no desejo de um grupo provar sua supremacia sobre o outro, como aconteceu com o nazismo, considerando a divisão das raças no mundo.


O mais interessante é a hipocrisia que se criou em torno do sexo, que todo mundo faz, mas que ninguém fala sobre o assunto profundamente. Sexo virou vergonha, e admitir como o faz sem-vergonhice. A nossa sociedade é sexualmente doente, quando percebemos que o assunto não é natural como deveria ser e que a maioria das pessoas não sabe o que é um orgasmo de tremer o chão. A folha de parreira que cobriu o sexo de Adão e Eva cresceu e virou uma grande trepadeira que impede o homem e as mulheres de se libertarem das amarras que o impedem de conhecer o próprio corpo.


Críticas pesadas, acusações, perseguições, entre outras práticas, que chegam a gerar até prazer aos seus algozes, substituem o sexo. A questão da homossexualidade entra aí. O fator que um dia explicará a origem do desejo dos gays por pessoas do mesmo sexo será o mesmo que explicará o desejo dos heterossexuais pelo sexo oposto. E em ambos os casos se descobrirá que a opção sexual será a posição escolhida no livro do Kamasutra.


A perseguição aos homossexuais e afins é tão ridícula principalmente quando é levada para o lado religioso ou mesmo atribui-se alusões com a pedofilia ou doenças como a Aids. Que ser escolheria enfrentar todo esse preconceito se fosse uma “opção”? O próprio heterossexual não precisou optar, ou precisou? Se em caso afirmativo, a velha afirmação de que todo ser é bissexual se torna verdadeira, pelo menos na teoria.


Estranho mesmo é ver lésbicas em filmes heterossexuais de sexo, enquanto os homossexuais masculinos são hostilizados pela cultura machista. Mais estranho ainda é ver o casamento sobreviver quando um de seus pilares, a fidelidade, é derrubado. Surubas e ménages não assustam mais ninguém. Tudo virou fetiche, tudo pode, desde que feito de maneira discreta e sem violência.


Sem querer repetir o erro dos tais reducionistas, que classificam o sexo segundo valores morais ou categorias: vale tudo. Apenas a camisinha se mostra como ferramenta necessária nesta discussão, nem o tesão precisa mais pois já tem remédio. O ser humano virou uma máquina de fazer sexo. O sexo virou terapia e os valores viraram ressaca, para alguns.


 A vulgarização do sexo transforma o ser humano, aquele mesmo que inventou tudo isso para se sentir especial, em um ser desprezível. Ele reduz a importância das relações amorosas, na troca de um relacionamento por um falso prazer ou uma aventura. O sexo virou mais um item do capitalismo selvagem. Sexo virou poder e tornou-se descartável.


No fim, sobra o homem, pagando por sexo, e pelo remédio da ereção, já que a beleza se foi e a necessidade perdurou. Sobram os gays discutindo pelo sexo que nem mais fazem. Ou talvez estejam fazendo sexo com uma máquina. No capitalismo é assim: tudo vira poder e dinheiro e depois muda-se o jogo. Viva o Etanol: o novo café brasileiro. Feliz quem inventou o Viagra.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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