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Entrevista com o PHD Dr. James Sears sobre bullying homofóbico

Redação Lado A 23 de Outubro, 2008 16h46m

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Entrevista Exclusiva
O premiado pesquisador Phd em educação e sociologia James Sears, engajado na luta contra a coação nas escolas, conhecida como Bullying, esteve em Curitiba no último final de semana para ministrar palestra sobre o tema na Universidade Federal do Paraná. Ele passou um mês no Rio Grande do Sul acompanhando trabalhos na área de educação e ministrando cursos pela UFRGS. Além de viajar o mundo conhecendo, palestrando e ajudando em projetos, e escrever livros importantes, o professor que já passou pelas principais universidades americanas, como Harvard. Atualmente, ele leciona nos cursos on-line da Penn State University.


A abordagem holística dada ao problema do bullying nas escolas é bastante interessante. Especialista em cultura LGBT e estudos queer, James é realista ao afirmar que está longe o dia em que o mundo será igualitário mas aponta os caminhos para se chegar a este ideal. Uma das partes mais interessantes da sua palestra é quando mostra que o jovem apenas reafirma o que a sociedade prega por meio da heteronormatividade e muitas vezes o faz para ganhar status no grupo social que convive, além de outras razões como a homofobia internalizada. O bullying não deve ser visto como apenas como um problema que envolve a vítima e o  agressor mas um problema social que envolve além de uma terceira pessoa, as testemunhas, e também a sociedade que incentiva este tipo de prática com omissão e opressão.


Confira abaixo a entrevista realizada no dia 18 de outubro, nas dependências do prédio da reitoria da UFPR após o Dr. James Sears ministrar sua palestra sobre homofobia nas escolas:


Quais os procedimentos existentes para diminuir o bullying nas escolas norte-americadas?
Isso depende de estado para estado, de distrito. Na Carolina do Norte, onde eu vivo, existe muito pouco sendo feito, mas em Massachussets há programas de escolas seguras, eles incluem políticas contra o bullying homofóbico e punem quem discrimina. Mas tudo depende do distrito em que a escola se localiza, dos educadores, não há uma política nacional de educação. Os procedimentos e curriculum são definidos por cada estado, e a política contra homofobia geralmente varia de distrito a distrito, escola a escola.


Qual seria a melhor punição a quem comete o bullying?
Duas coisas. Este comportamento deve ser cessado imediatamente e a idéia de penalidades deveria ser reforçada mas esta é a parte mínima. Como eu havia explicado, isso é o que fazemos e não damos a devida atenção a questão. Professores e educadores devem se posicionar ao tomar conhecimento e dizer: “isto não é aceitável”, que não é tolerável. Este é o mínimo que deve ser feito.


O que seria mais efetivo: acabar com o bullying nas escolas ou na sociedade?
Os dois, mas o mais efetivo seria acabar com o bullying na sociedade, que inclui a escola, em casa, nas famílias, na igreja. O que é mais viável e realista? Acabar com o bullying nas escolas. As crianças norte-americanas passam 100 mil horas estudando ao longo de suas vidas.


A escola é um reflexo da sociedade ou o primeiro passo para mudá-la?
Os dois. As escolas na nossa sociedade são desenhadas para reforçar o status quo, para isso que elas são feitas. O papel dos educadores críticos é de usar a escola para ajudar a sociedade a ir rumo aos seus ideais, como a cidadania democrática. Então há sempre uma tensão, os professores estão sempre na linha de frente. Eles podem reforçar o status quo ou ajudar a desafiar o status quo. Muitos educadores são tímidos e escolhem o primeiro.


Qual o maior desafio para os programas anti-bullying?
É tomar ação e conscientizar as pessoas que fazem estes programas de que enquanto não se colocar nomes aos problemas que levam ao bullying, nada será feito. É preciso endereçar os problemas específicos que levam ao bulling, como o bullying racial, homofóbico, pois sistematicamente estes programas serão limitados se não fizerem isso e já está acontecendo.


E a maior conquista, objetivo, destes programas?
Ter uma sociedade igualitária e justa para todas as pessoas. Para os homossexuais poderem andar de mãos dadas como qualquer casal, ou fazerem o que quiserem, ser considerado normal. O objetivo é aproveitar a vida em plenitude sem medo de violência ou discriminação.


A resiliência, muito comentada pela psicologia moderna, é viável para todas as pessoas? (capacidade de se tornar mais forte e aprender com as diversidades)
Todo mundo tem o potencial de ser mais resiliente. E é isso que deve ser feito nas famílias, igrejas, ajudar as pessoas a serem mais fortes e não apenas a falarem “levante-se e encare”. A tomar ações positivas, se organizar, não jogar com a mesma moeda, mas fazer a diferença. Os pais têm grande influência nas escolas, eles devem questionar como é possível aprender em um clima, cultura de medo. No Brasil, estava analisando os dados, a maioria dos estudantes brasileiros não considera as escolas um lugar seguro. Por isso o bulling e violência ocorrem. Como se pode aprender em um clima de intimidação e medo?

Você foi vítima de bullying?
Sim. É por isso que eu me sinto tão forte para falar sobre o assunto. Quando eu era novo, a homossexualidade nem era discutida. Se eu falasse que estava sendo incomodado para meus pais, ao padre, às freiras, eles perguntariam: Por quê? E se eu falasse algo eu seria mais incomodado ainda.

Nota do editor: Sears ficou chocado ao saber que gays não podem doar sangue no Brasil. 

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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