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O Estranho e A Jornalista

Redação Lado A 24 de Fevereiro, 2010 17h42m

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01 janeiro de um ano qualquer
Ele era alto, magro, pele clara, e usava óculos. Ninguém sabia o seu nome. Era conhecido como ‘O Estranho’. Ele caminhava pela praia de Torres. Estava sozinho, acompanhado de uma garrafa de vodka – estava sempre sozinho. Ele parou e deitou na areia mas não conseguiu dormir, bebeu a vodka morna. Ele pensava nos acontecimentos da noite anterior. O que mais impressionava era seu comportamento depressivo. Tinha presente a solidão. Ele decidiu que sua conduta ao amanhecer seguiria quieta e empenhada em descobrir quem era a figura feminina que lhe chamou atenção em um vestido preto e branco.

O Estranho adormeceu na areia e sonhou com a mulher. Era uma jovem Jornalista frustrada. Ela não tinha conseguido concluir o mestrado em sociologia política devido ao seu atraso de raciocínio, provavelmente causado por ingestão de grandes quantidades de maconha e anfetaminas. Mas no sonho Ela parecia sensível, uma mulher que se podia confiar. Os melhores amigos da Jornalista eram roqueiros que despontavam nas rádios da capital gaúcha. Eles pareciam um tanto deprimentes, sempre com cigarros na boca, bebidas e algumas drogas.

02 de janeiro de um ano qualquer
O barulho das ondas acordou O Estranho na areia quente. Os passarinhos nos fios elétricos refletiam seus olhos tristes. Ele estava em outro mundo e todas as suas paranóias estavam difíceis de alcançar. Absorvido pela sua ilusão e imaginação sobre A Jornalista, O Estranho vagava pela areia, pensava em qualquer redação de jornal ou revista que Ela poderia estar. Ela era sua história agora, um dia após o outro. Acreditou estar em união total com alguma coisa no espaço que ainda iria descrever.

23 de fevereiro de um ano qualquer
Poucos dias foram suficientes para O Estranho descobrir que A Jornalista era real e morava em Porto Alegre. Descobriu também que seus pais eram aposentados. Ela tinha sido alfabetizada pela avó alemã aos quatro anos de idade. Devido à alfabetização precoce, nas séries iniciais tinha como castigo ir à biblioteca do colégio ler sozinha. Aos 12 anos já lia clássicos. Na adolescência A Jornalista apaixonou-se por Gibran Khalil Gibran, Nietzsche, Oscar Wilde e Dostoievski.  Passada a fase da descoberta do Estranho, Ele foi à busca de vestígios que o levassem a tal Jornalista. Antes de definir um plano de seqüência Ele adormeceu após beber duas garrafas de vodka.

24 de fevereiro de um ano qualquer
O Estranho acordou com a cabeça pesando mil toneladas devido à ingestão do álcool. Passando por uma ressaca sem antecedentes, tentava entender como chegaria até o banheiro. Precisava de um banho. Pensou no calor que fazia em Porto Alegre, mas desistiu de levantar. O Estranho ficou apenas com os pensamentos e sua descoberta do dia anterior. Com tudo confuso e com muita dor de cabeça Ele tomou calmantes para adormecer novamente e sonhar. O Estranho queria sonhar com A Jornalista e de tanto querer começou a ter uma sequência de sonhos.

A jornalista gaúcha Flora Dutra nos cedeu este trecho de seu livro “O estranho e a jornalista”.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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