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A sociedade é efebófila, não pedófila

Redação Lado A 05 de Maio, 2010 21h45m

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Este texto era para sair faz um tempo, desde que começou a nova onda de escândalos sobre pedofilia na Igreja Católica, mas por causa da polêmica que o texto geraria, resolvi abortar a idéia para não acabar mal compreendido. Mas ao ouvir o arcebispo de Porto Alegre, dom Dadeus Grings afirmar na conferência da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) que a sociedade é pedófila, resolvi voltar ao tema, sem querer justificar ou discutir as declarações do religioso, que ainda comparou a pedofilia com a homossexualidade.


O termo grego ephebo era usado, em Atenas, para se referir aos varões que entravam entre os 18 e 20 anos no serviço militar, ou efebeia. A arte grega eternizou o termo ao retratar a beleza dos jovens, com seu físico esquio, o contraste da virilidade e da inocência nesta idade. O Davi de Michelangelo é um bom exemplo. Hoje, com 15 anos, jovens já frequentam academias e querem se adequar ao padrão estético vigente o quanto antes. Padrão este que remete ao período clássico. 


Efebofilia se refere ao desejo sexual de pessoas adultas por pessoas jovens, saídas da puberdade. Antes que entremos nas questões legais de maioridade sexual, quero chamar atenção ao fato de que as características do objeto do desejo não estão necessariamente ligadas à idade do mesmo. Por exemplo, mulheres colocam implantes de silicone para terem os peitos firmes e pontudos, que são características das ninfetas, mulheres saídas da puberdade. E o padrão do homem sem barba, sem pelos no peito, também refletem a juventude, a aparência de pessoas antes de entrarem na vida adulta. O homem sem músculos avantajados, com traços andróginos, remete à busca pela eterna juventude, que a sociedade impõe e cobra por meio de programas de tevê, propagandas e produtos milagrosos.


Há uma idolatria de padrões de beleza que remetem aos adolescentes e jovens. Há também a hiper valorização da inexperiência sexual, da inocência, da virgindade e isso se reflete a idades cada vez mais novas! As doenças venéreas, entre elas a Aids, apontam erroneamente que é mais seguro transar com virgens e com pessoas iniciantes na vida sexual. Tudo isso colabora para idolatrar sexualmente uma pessoa de idade precoce e o assunto vai até o limite da legalidade. Mas o que diz a lei?


A pedofilia é uma doença, o crime está na corrupção dos menores, na exploração sexual deles, conforme indica nosso código penal. O pedófilo quer se relacionar com crianças, normalmente sem pelos no corpo e órgão sexuais ainda em formação, e não vê a maldade de seus atos, embora seja crime quando for menor de 14 anos ou houver qualquer forma de recompensa ou coação. Já o efebófilo quer desfrutar do jovem em início de sua vida sexual, com desenvolvimento quase completo, que muitas vezes já pratica sexo. A efebofilia não é apenas praticada como incentivada em nossa sociedade. As revistas de nu trazem esse padrão em suas capas, chamam de lolitas e lolitos, apesar dos “modelos” serem maiores de idade. A sexualização precoce dos adolescentes está fazendo com que a cada dia iniciem mais cedo a sua vida sexual e isso faz confundir a pedofilia com a efebofilia.


Nos casos envolvendo padres há pedofilia, há exploração sexual de menores (quando oferecem presentes ou benefício), mas há também a efebofilia com rapazes de 14 a 17 anos. Vale lembrar que o código penal prevê que menores de 14 anos não podem transar, configurando estupro ou violento atentado ao pudor presumido. Já sobre maiores de 14 anos, a lei condena apenas casos que envolvam exploração ou violência (coação).  Porém, no caso de homens com homens, como esses dos padres, o assunto pode acabar na delegacia, por uma questão homofóbica dos pais, que tentam configurar a relação nos crimes previstos em lei (corrupção de menores e exploração sexual de menores).


A sociedade é efebófila, mas acima de tudo é hipócrita.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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