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Homofobia é coisa de hétero, também

Redação Lado A 19 de Julho, 2011 18h14m

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A homofobia no Brasil está tamanha, que héteros também estão sendo vítimas dessa insanidade do ser humano, desta intolerância horrorosa contra pessoas que amam pessoas do mesmo sexo. A culpa é claramente do discurso antigay, alimentado por falsos defensores da família e de discursos que pregam em nome de religiões o ódio ao homossexual. Há ainda a homofobia internalizada, em que os próprios gays enrustidos alimentam o ódio contra aqueles que superaram a aceitação interna e se assumem gays. Àqueles que defendem que gays não podem manifestar afeto em público, que evocam que isso influenciaria as crianças, pode-se dar o mesmo veredicto: culpados!


Aos 14 anos, Alexandre Ivo, foi morto por homofóbicos, depois de sair de um jogo do Brasil na Copa de 2010, quando foi torturado e morto. A mãe diz que o filho nem teve tempo de viver sua sexualidade, e nega que ele era homossexual. No mês passado, um rapaz que sofria bullying em um quartel de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, foi sodomizado por outros três soldados. Ele afirma que não é homossexual. Entre os crimes da Av. Paulista, cometidos por adolescentes que foram presos e libertados (o único maior de idade está foragido), um rapaz recebeu um golpe de lâmpada fluorescente na cabeça, em imagem que foi veiculada na tevê e causou pânico. O estudante nega ser gay. E na semana passada, mais um caso insano, pai e filho foram espancados por estarem abraçados em uma feira agropecuária no interior de São Paulo, confundidos com um casal gay. O pai teve parte da orelha arrancada por uma mordida. Poderia ter acontecido com qualquer um.

A palavra homofobia foi criada pelo psicólogo norte americano e heterossexual George Weinberg, em 1972, no trabalho “A Sociedade e a Saúde Homossexual”. Antes, outro termo era utilizado, homoerotofobia, que indica o medo ao homoerotismo; e ainda homonegatividade, criado posteriormente na década de 80, para tentar evitar o sufixo phobia, que remete a medo. Hoje, o termo homofobia é amplamente divulgado e significa “medo irracional aos homossexuais”. A manifestação da homofobia pode ser institucional, social, internalizada e até política, quando estimulada por regimes autoritários, como acontece em teocracias. De todo modo, a homofobia não alcança apenas os homossexuais, mas toda a sociedade, como ficou claro nos exemplos citados.

Além da violência, a homofobia limita o desenvolvimento do ser humano. Há estudos que apontam claramente que ambientes livres de preconceito são mais criativos. A internet e o cinema são prova disso. O Vale do Silício e Hollywood, nos EUA, já criaram uma política de inclusão para profissionais gays, para evitar que eles procurassem locais mais tolerantes. A homofobia é capaz de matar não apenas um gay, mas uma empresa, uma família, uma comunidade, um país. Quando se fala em qualidade de vida, a homofobia impacta não apenas nos homossexuais, mas também nos heterossexuais. No Brasil, a cada 2 dias um homossexual é assassinado com requintes de crueldades por ser diferente. Mas há também héteros que morrem por brigas que começam com um chamando o outro de “veado”, ou outros termos homofóbicos, pois ser gay, para eles, é ser escória. Este é o princípio da homofobia, acreditar que homossexuais são menos merecedores de respeito ou do direito à vida do que os outros. Ou acreditar que ser homossexual é ofensa a Deus ou às leis naturais, ou ainda que ser homossexual é “opção” daqueles que são pervertidos ou safados e por isso devem aguentar o peso de suas “escolhas”.

A homofobia é uma construção social, é uma opção, é pecado, é safadeza, é desumano, é antinatural, é um mal para a sociedade e às famílias. A homofobia sim, que deve ser combatida nos discursos daqueles que pregam tais valores. A moral tem como função a preservação da vida. A homofobia sim é imoral, assim como qualquer discurso que tenta mascarar esta realidade.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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