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Caleidoscópio – Mãe narra como é ter um filho gay

Redação Lado A 06 de Julho, 2012 00h23m

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Por Marise Felix da Silva 

Descobrir que uma filha ou filho é homossexual, é como engolir uma pedra, pesa no estômago e se espalha por todo o corpo.  A primeira pergunta é: por quê? Por que isso esta acontecendo com minha filha ou filho? Por que isso está acontecendo comigo? O que a minha família vai dizer? E a gente se sente mais culpada ainda, pois estamos sendo egoístas – ‘comigo’ é o pensamento.
 
Esquecemos a personagem principal: a filha ou filho que sempre esteve ao nosso lado se mostra, agora, diferente – ela ou ele é homossexual. Mas pare aqui! O que é ser homossexual? A primeira coisa que nos vem à cabeça é que ‘elas e eles’ são errados, estão na contra mão do que EU SEI que é certo, afinal, meus outros filhos não são homossexuais então, essa  ou esse jovem não deveria se-lo também.
 
Ser homossexual assumido implica em se expor para a sociedade, e logo vem o pensamento: tenho que proteger minha ou meu rebento, tenho que protegê-la/o da família, tenho também que me proteger. E começamos um novo caminho de descobertas de um  mundo paralelo. Sim, paralelo, pois estava ao nosso lado desde sempre mas a gente não viu, não nos interessava. E agora que interessa não sabemos por onde começar, mas de alguma forma começamos e encontramos outros iguais nessa busca.
 
De repente, a vida fica diferente, a gente começa a perceber coisas –sons, cores, pessoas- que nunca tínhamos reparado antes. O que? O mundo mudou? Não, nós mudamos,  e nossa forma de ver o mundo muda com a gente.

Tem a fábula do rei que vai escolher seu conselheiro e põe no centro da sala um rico vaso e diz: Esse é o problema que vocês vão resolver. Todos circulam o vaso e pensam e pensam… até que o mais novo e mais desacreditado dos candidatos  vai lá e quebra o vaso em mil caquinhos. Pronto, foi o escolhido, pois o problema não existia mais. Nossos jovens ao se assumirem homossexuais muito cedo estão resolvendo um problema, pois viver se escondendo é abrir portas pra violência que a sociedade infringe  a cada um em situação marginal pois sua própria família o rejeita. Ao ‘quebrar o vaso’ e dizer eu sou homossexual o nosso jovem esta sendo muito corajoso, esta dizendo que tem mil e uma qualidades e que é também homossexual, vai fazer dos caquinhos do vaso um lindo caleidoscópio para enfeitar sua vida.
 

Nessa caminhada desde que se engole a pedra passando pela  quebra do vaso  e fazendo um caleidoscópio, muita coisa muda na nossa vida, se nos permitirmos sermos humanos além de pais, perceberemos que somos feitos do mesmo material que nossos filhos, que também tínhamos um vaso chamado preconceito e, ao quebrá-lo, nos tornamos melhores pessoas. Ao usarmos o caleidoscópio da vida haverá dias de imagens ruins mas na maioria da vezes as formas e cores formadas por essa nova composição de vida será sim muito mais prazerosa.

Eu sou a Marise tenho três filhos e um neto, um de meus filhos não é hetero, qual? Não importa,  essa é a minha família e nós nos amamos e somos unidos e felizes, não é essa afinal a grande meta a ser atingida em todas as sociedades?

 

 
Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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