Arquivo

O amor homossexual (Parte Quatro)

Arthur Virmond de Lacerta Neto 07 de Novembro, 2012 01h20m

COMPARTILHAR


Por Arthur Virmond de Lacerda Neto
 
Recentemente, uma literatura cada vez mais volumosa, sobre a homossexualidade, revelou-lhe a frequência na Europa. Nenhum país, nenhuma classe, acham-se isentos dela. Em certos cantões da Albânia, ela tornou-se, mesmo, um costume popular; os rapazes de idade acima de dezesseis anos tem por favoritos rapazes de doze a dezessete anos.
 
As averiguações que acabamos de registrar referem-se, sobretudo, às práticas homossexuais entre homens, porém há, delas, análogas, entre mulheres. Encontram-se, nos aborígenes da América, a par de homens que se comportam como mulheres, mulheres que se comportam como homens. Assim, em certas tribos brasileiras, há mulheres que se abstém de toda ocupação feminina, que imitam, inteiramente, os homens, penteiam-se como eles, acompanham-nos à caça, comparecem à caça armados de arcos e de flechas e deixar-se-iam matar, para evitar de travar relações sexuais com homens.
 
Cada uma destas mulheres dispõe de uma mulher que a serve e com quem ela se diz casada: elas vivem em conjunto, maritalmente. Entre os esquimós do Leste, algumas mulheres recusam-se a aceitar um marido e preferem adotar maneiras masculinas, perseguir os gamos nas montanhas, exercerem, elas próprias, de caçadoras com trapola e pescadoras. As práticas homossexuais entre as mulheres são, parece, coisa corrente entre os hotentotes e os hereros. Em Zanzibar, há mulheres que, na sua intimidade, vestem-se de homens, mostram preferência por ocupações masculinas e procuram satisfação sexual junto de mulheres que apresentam os mesmos pendores ou, na falta destes, junto de mulheres normais que seduzem por meio de presentes ou por outras formas. Nos haréns do Egito, cada mulher tem, parece, uma “amiga”. Em Bali, a homossexualidade é quase tão difundida entre as mulheres quanto entre os homens, porém é mais secreta; os mesmo se passa, ao que parece, nas Indias. A antiguidade grega transitiu-nos o eco dos amores lésbicos. 
 
Porque mais frequentemente observou-se a homossexualidade entre homens, do que entre mulheres, não se deve concluir que estas a ela se dediquem menos do que eles. Há vários motivos porque as anomalias sexuais femininas atraiam menos a atenção do que as masculinas e a opinião moral, geralmente, pouco se ocupou delas.
 
As práticas homossexuais resultam, às vezes, de uma preferência instintiva; às vezes, de condições exteriores desfavoráveis às relações normais. Uma sua causa frequente é a inversão sexual congênita, ou seja, “o instinto sexual dirigido, por anomalia constitucional inata, às pessoas do mesmo sexo”. Parece provável que os homens afeminados e as mulheres masculinizadas de que tratei acima, são, em muitos casos, ao menos, invertidos sexuais; contudo, tratando-se dos chamans, a mudança de sexo pode, também, provir da crença em que os chamans, transformados, detém, como as suas confreiras mulheres, um poder particular. Holder afirma a existência da inversão congênita, nas tribos norte-ocidentais dos Estados Unidos da América, o dr. Bauman, nos povos do Zanzibar. No Marrocos, também, creio ser ela assaz frequente. Contudo, em relação aos povos estranhos à Europa, não podemos muito senão apoiarnos em simples conjecturas; não conhecemos muito a inversão congênita senão pelas confissões espontâneas dos invertidos. As maior parte dos viajantes ignora totalmente o lado psicológico da questão; mesmo para um especialista, deve ser, amiúde, mais ou menos impossível determinar, perante um caso de inversão, se ela é congênita ou adquirida. A dizer verdade, a inversão adquirida supõe, ela própria, uma disposição inata que, em certas circunstâncias, resulta, por desenvolvimento, na inversão verdadeira. Demais, entre a inversão e a sexualidade “normal”, parece que se encontram todas as espécies de graus. Guilherme James pensa que a inversão é “uma variedade do apetite sexual, de que, muito provavelmente, a maior parte dos homens possui a possibilidade germinal” . É assim, seguramente, no início da puberdade.  (Continuará).
 
1 James, Princípios de psicologia, II, p. 439. (Nota de Westermarck).
 2 Dessoir chegou mesmo à conclusão (em Sobre a psicologia da vida sexual) de que “um sentimento sexual não diferenciado é normal, em média, nos primeiros anos da puberdade”. Porém trata-se, manifestamente de um exagero (conforme Havelock Ellis). (Nota de Westermarck).
 
 
Arthur Virmond de Lacerta Neto

SOBRE O AUTOR

Arthur Virmond de Lacerta Neto

Arthur Virmond de Lacerda Neto é jurista, filósofo, advogado, professor e escritor de sucesso. Nascido em Portugal, ele reside atualmente em Curitiba, e é colunista da Lado A desde 2007.

COMPARTILHAR


COMENTÁRIOS