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É comum homossexuais reclamarem das restrições que o preconceito impõe em suas vidas. Da falta de direitos, da violência, entre outros fatores que colaboram com uma qualidade de vida aparentemente inferior. Esquecemos que o mundo heterossexual é muito mais castrador que o mundo gay. Talvez essa seja a razão de muitos heterossexuais sentirem aversão aos gays, pois muitas de suas frustrações vêm à tona quando um homossexual passa feliz e contente ao seu lado.
Um indivíduo heterossexual, desde pequeno, é posto em moldes. Querendo ou não, ele é levado a acreditar que homens não choram, não brincam de bonecas, não podem ser sensíveis, e no caso das mulheres, que devem servir o marido, abrir mão de sua vida pessoal para criar os filhos, serem submissas. Casamento, fidelidade, comportamento politicamente correto, discrição, sexo, procriação, tudo faz parte de um pacote imposto, do qual não se pode fugir.
Mas alguns fogem. Os gays fogem de regras que um heterossexual jamais poderia. Perto dos 30 anos, o heterossexual é praticamente obrigado a se casar, a ter uma família. O gay não tem esse problema. Na cama, o casal homem e mulher tem barreiras psicológicas e históricas na hora de atingir o orgasmo, muito pudor. O casal gay é mais descolado. O homem gay pode ser sensível, pode ser o que quiser. O homem heterossexual precisa impor o respeito através da virilidade, da não dúvida sobre a sua masculinidade. A mulher lésbica pode responder, se colocar no mesmo nível de um homem. A mulher heterossexual é acusada de não ser feminina.
Quando levamos isso para a vida prática, o mundo gay seduz. Quantos heterossexuais não entraram em um casamento em nome da multiplicação da espécie, por uma obrigação social, pressão familiar ou por medo de ficar só. O gay não é abalado facilmente sobre a insegurança ou pressão social. Talvez porque durante um bom período de tempo conviveu com a ansiedade de ser rejeitado. O gay é seguro por ter a certeza que o caminho escolhido foi de fato escolhido com consciência, por mais inconsciente que o desejo sexual possa ser, o seu estilo de vida foi construído com suas próprias concepções de mundo, e não as dos outros.
A ideologia heterossexual prega então que gays são ameaças às suas estruturas. Pois como toda ideologia, ela não admite conflitos, pois o conflito é a realidade. Eu nunca havia entendido o porquê de gays ameaçarem a estrutura da família “tradicional” como diz o Vaticano. Hoje, entendi.
Para muitos, o gay não abriu mão de nada, representa uma união sem frutos, é irresponsável, egoísta, não tem papel social no mundo. São esses exatamente os pontos onde os heterossexuais precisaram ceder. Abrir mão de seus pensamentos próprios, assumir responsabilidades do seu respectivo papel social e aprender a dividir seus sonhos em nome de um núcleo familiar tradicional e procriador.
Talvez a liberdade de escolhas que o homossexual representa possa mostrar para os héteros que a infelicidade de uma vida não escolhida pode ter fim. E que gostar do mesmo sexo ou do sexo diferente é apenas um ponto e que a liberdade de conduzir a sua própria vida é uma verdade que os homossexuais descobriram e gozam, mesmo com todos os problemas.
SOBRE O AUTORRedação Lado AA Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa |
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