Ontem eu fui a um chá de panela.
Para quem não sabe como funciona, eu vou dar minhas impressões de marinheira de primeira e única viagem, porque esse foi o primeiro – e último – chá de panela que vai ver minha cara.
A noiva é uma amiga que eu tinha. Eu digo “tinha” porque, há aproximadamente três anos, ela foi recrutada por um grupo malicioso e aliciador, conhecido como Igreja Batista.
Em outras palavras, nossos papos passaram de “você viu Friends ontem à noite?” para “Jesus te ama, renda-se.” Com isso, admito que não faço esforço algum para manter contato com ela. Não que eu seja contra, mas não gosto de fanatismo.
No entanto, como estamos eternamente ligadas uma à outra por forças sobrenaturais, mantemos um contato banal e esporádico. Por isso recebi o convite de casamento. E, pior… o convite do chá de panela.
Sábado à tarde, 16h30. Saio de casa carregando um bolo de maçã já manchado pelas cerejas que estavam em cima. Como toda boa lésbica, me recuso a ir à uma festa sem carregar algo de comer.
É importante lembrar que me encontro em estado de coala: há uma semana só como árvore, que é pra ver se emagreço uns quilinhos. Por conta disso, o bolo de maçã pesava no braço e na mente.
Ao chegar ao salão de festas do prédio do noivo, onde o tal chá de panela aconteceria, percebi que minha estada lá seria curtíssima. Estavam reunidas aproximadamente cinqüenta mulheres, sendo que quarenta e nove hetero e uma menina de seis anos que ainda não sabe de nada. E eu. Sozinha e isolada, olhava as cortinas e dava uns sorrisinhos para as pessoas que passavam.
Única fumante. Única lésbica. Única pessoa que se recusava a falar exclusivamente de cor de azulejo de cozinha, da necessidade básica de um pegador de sorvete de metal, do número de panelas de arroz queimadas, da quantidade de alvejante que se usa em um dia inteiro de faxina.
Me isolei em um canto por aproximadamente quarenta minutos, durante os quais eu fiquei a observar o absurdo que são chás de panela. Duas pessoas vão casar. Na igreja. Compraram um apartamento Deus sabe como. Estão mobiliando o dito apartamento às custas de cinqüenta outras mulheres e uma lésbica, sendo que eu esqueci de levar o maldito pegador de sorvete (de metal).
Se isso acontecesse na comunidade gay, nós seríamos acusados de explorar até mesmo os amigos!
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Ainda pensando sobre o chá de panela. Mais da metade dos casamentos terminam em divórcio.
Cada divórcio leva, aproximadamente, oito meses para ser finalizado, e custa uma média de R$ 2.000,00. Se houver filhos, pode contar com mais uns R$ 10.000,00 para a terapia, R$ 400,00 por mês comprando coisas pra desviar a atenção do filho do pai ausente para um novo modelo de Playstation. Mobiliar um novo apartamento: R$ 12.000,00. Chances de se encontrar um novo(a) parceiro(a) que não tenha filhos do primeiro casamento: 1/12. Porcentagem de pessoas divorciadas que têm um novo relacionamento estável depois do divórcio: 20%.
Não, eu não sou mal amada.
Sou realista!
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… Eu ando super pessimista com a coisa toda…
De emprego a relacionamentos, passando por filmes disponíveis em vídeo, tudo me soa artificial e ridículo. Ontem eu passei três horas dissertando para um amigo sobre como “Romeu e Julieta” é a história mais ridícula da história.
Na minha opinião, o que Romeu e Julieta precisavam era de pais energéticos e que participassem na criação dos filhos, ao invés de deixá-los na companhia de uma ama (Julieta) e de um amigo (Romeu).
Se os Pais Montéquios e os Pais Capuletos soubessem que seus amáveis filhinhos não passavam de adolescentes – com toda a rebeldia, cabeça dura, neuroses – não haveria histórias.
Vamos às hipóteses:
Hipótese 1: Romeu encontra Julieta na festa. Ela tem uma casca de feijão no dente. Amor à primeira vista? Duvido.
Hipótese 2: Romeu encontra Julieta na festa. Os dois se pegam em um canto escuro, trocam telefones, ela liga prá ele no dia seguinte antes das oito da manhã. Haverá um segundo encontro? Duvido.
Hipótese 3: Depois da festa toda, e de se encontrarem no shopping para um sorvete, Romeu e Julieta entram na carruagem dele e partem para o lago. Ela dá pra ele de cara. Ele ligará de volta? Improvável.
Hipótese 4: Os dois conseguiram passar pelas etapas 1, 2 e 3. Dois meses de namoro, e Romeu bate a lambreta a caminho da casa de Julieta. Ficará ela esperando toda sua vida por um encontro pós-morte, sem sair com outros caras? Sem chance.
Hipótese 5: Por conta do “amor eterno e verdadeiro” de seus filhos, os Montéquios e os Capuletos fazem trégua. Romeu e Julieta se casam, e depois de três anos ela está cheia de estrias, resultado dos nove filhos que tiveram. Romeu olha de canto de olho o uó que dá de mamar ao seu caçula. Fidelidade? Improvável.
Hipótese 6: Romeu e Julieta marcam de se encontrar no cinema. Como é dia de estréia, não se acham, e assistem à “A Mexicana” separados. Na saída, Julieta encontra Brad Pitt, e Romeu dá de cara com a Julia Roberts. Romeu e Julieta… ou Romeu e Julia / Brad e Julieta?
Eu torno a dizer: é a história mais estúpida já escrita!
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Nessa semana…
… o som é Hung Up, da deus eterna Madonna!
… o aroma é de livro novo, recém-aberto
…. o gosto é de ressaca!
…. o filme é Romeu e Julieta! UGHHH!
…. a página é http://www.astronline.com.br
… a frase é “Eu sou a mais bandida das mocinhas.”
… o beijo vai para o Allan que esperou pacientemente esta coluna!