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Henry Scott Tuke e Barão Wilhelm von Gloeden: Arte ou pornografia pedófila?

Redação Lado A 18 de Janeiro, 2009 00h43m

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Dois pioneiros da arte homoerótica, ambos do século XIX, Henry Scott Tuke (1859-1929) e Barão Wilhelm von Gloeden (1856 –1931) têm deixado no ar a grande pergunta: “Arte ou pornografia pedófila?” em seus trabalhos. Eles viveram em uma época onde a homossexualidade era crime e o olhar erótico sobre as crianças era muito mais artístico do que malicioso. Mesmo assim, seus trabalhos ainda hoje causam repulsa em muitos conservadores.

Henry Scott Tuke era um pintor e fotógrafo britânico que retratava meninos e homens pelados em cenas que remetiam sempre ao mar. Nascido de uma família médica tradicional de York, com ligações reais no passado, chegou a conhecer o famoso escritor Oscar Wilde e outros artistas considerados pederastas pela lei vitoriana. Fez parte a escola artística de Newlyn (naturalista) e viveu com a comunidade de artistas de Cornwell. Seus quadros mais famosos são os da série “Agosto Azul”, quatro imagens de garotos se banhando ao lado de um barco. Em sua arte as genitálias raramente aparecem e não há contato físico entre os personagens, sem sugestões de sexo.

A maioria dos trabalhos foi comprada por colecionadores gays, ele sobrevivia fazendo retratos encomendados em seu estúdio londrino. Suas pinceladas eram consideradas rudes para a época e as cores perfeitas para a luz britânica. Estudiosos acreditam que ele poderia ter sido um dos maiores pintores de sua época se tivesse aderido às técnicas vigentes, francesas. Mesmo assim, ele foi eleito para a Academia Real de Artes em 1914. Sua arte só foi redescoberta nos anos 70, quando seus quadros começaram a atingir altos preços em leilões.

Já o barão alemão Wilhelm von Gloeden passou boa parte de sua vida na Itália, mais especificamente na Sicília, fotografando garotos locais, criando imagens com forte influência da cultura greco-romana. No início explorava a mitologia mas logo aderiu a um enfoque mais natural.  Dizem que ele mudou para lá por causa de uma tuberculose mal curada e que sua riqueza movimentou a economia local. Sua homossexualidade era tolerada pelos moradores da pobre vila de Taormina já que o barão pagava seus modelos. A família von Gloeden jamais reconheceu Willhelm como membro da família e seu título de barão jamais foi confirmado.

Em suas fotografias, muitas em cenas pastoris e utilização de maquiagem corporal. A luz perfeita, combinada com poses poderosas, foi reconhecida no meio artístico da época. Nu frontal, insinuações e beleza juvenil. Sua fama era grande já quando estava vivo e seu trabalho é referido como o melhor entre os que ressurgiram de antes da Primeira Guerra Mundial. A herança do artista foi deixada a um de seus modelos e amante, desde os 14 anos de idade, Pancrazio Buciunì, Il Moro. Parte da obra do artista, 2.500 das 3.000 imagens deixadas, foi destruída a mando de Benito Mussolini na década de 30. O ditador considerava a arte de von Gloeden como pornografia. Guglielmo Plüschow, primo do polêmico barão, continuou o trabalho do parente em um estúdio de Roma.

O mexicano Luis Márquez Romay também possui um consistente trabalho de retrato de garotos semi-nus, disputados pelos colecionadores de arte homoerótica. Von Gloeden inspirou seguidores em sua época até os dias de hoje e criou um novo conceito de arte e coleção.

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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