Nossas novelas estão longe das séries com temática gay (The L World ou Queer as Folk, por exemplo) produzidas pelas TVs americana, britânica e canadense, onde homossexuais tem seus conflitos debatidos e uma vida de verdade e não aparecem apenas como personagens secundários, recebendo os amigos problemáticos (qualquer semelhança com o casal Rodrigo e Thiago, de Paraíso Tropical (2007), não é mera coincidência).
O uso do “merchandising gay” começa com o casal Sandrinho e Jeff (A Próxima Vítima, 1995). Lembro pouco dessa novela, mas sei de como os personagens são importantes. Eles falavam abertamente de sua sexualidade e isso incomodou um preconceituoso, que agrediu o ator André Gonçalves. Sua atuação foi tão convincente, que muitos anos depois minha mãe acreditava que André Gonçalves realmente era gay.
Passado algum tempo, tem uma cena que não sai da minha cabeça nem da do meu namorado. Rubinho e Marcelo (de Páginas da Vida, 2006) no auge de sua relação, decidem adotar o filho da empregada. Emoção tão efusiva que poderia ter sido comemorada com um beijo ou, quem sabe, com um abraço mais carinhoso, mas, no lugar de umas dessas alternativas, foi usado um aperto de mão. Sim, um bom e velho aperto de mão. Nada mais natural para selar uma decisão tão importante. Urgh!!!!
Claro que não posso ficar só reclamando, antes tínhamos apenas personagens esteriotipados: a bixinha louca!!! No último casal de destaque, tivemos um gay em conflito com sua sexualidade, apaixonado por um até então heterossexual. Isso mesmo, estou falando de Bernardinho e Carlão (Duas Caras, 2007).
O beijo gay já quase saiu algumas vezes, mas o que chegou mais perto de acontecer, bem pertinho mesmo, foi com o Júnior e o Zeca (América, 2005). Chegou até a ser gravado. Eu vivi o mesmo drama do Júnior com sua mãe, estava quase para contar para minha. Queria que ela me percebesse como o Júnior, mas não foi dessa vez.
Parece loucura, mas posso chamar todo esse processo de evolução. Poucos lembram, mas Otávio Mueller e José Wilker já formaram um “casal” (Desejos de Mulher, 2002). Foi como casal que eles iniciaram a novela, mas devido às pesquisas de opinião da plim-plim eles viraram apenas bons amigos.
Pegando esse gancho não posso me esquecer das meninas!!! Rafaela e Leila, um casal lésbico bem sucedido, explodiram dentro do shopping, junto com os personagens indesejados de Torre de Babel (1998). As pessoas não se conformavam de ver esse casal circulando entre os outros como se fossem um casal “normal”.
Falando ainda nas meninas, elas estão bem no Vale a Pena Ver de Novo. Acabou de ser reprisada Mulheres Apaixonadas (2003) com o casal adolescente Clara e Rafaela. Talvez as “Júniors” de muitas adolescentes gays. E agora volta ao ar Senhora do Destino (2004), com o casal Jenifer e Eleonora. (Esse é o casal que eu mais gosto!). Eleonora foi decidida e correu atrás do seu amor até o fim.
Atualmente sem nenhum casal gay nas telenovelas, resta-nos fazer um balanço. Ainda não tivemos o beijo gay, mas se pensarmos na evolução que aconteceu de 1995 até hoje, num país onde tudo acontece tão devagar, podemos dizer que somos mais bem aceitos não só nas novelas, mas também na sociedade em geral. Há muito o que se conquistar, mas é bom poder olhar para trás e ver o quanto caminhamos.