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A ´puta´ da Uniban

Redação Lado A 10 de Novembro, 2009 00h45m

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Correu o mundo a notícia de que uma estudante da Uniban, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, foi escorraçada após ir à aula com um vestido curto que mostrava suas pernas, no dia 22 de outubro. Homens e mulheres faziam coro e ela era chamada de “puta”, “piranha”, em vídeo postado na internet que demonstra a perseguição e a coação à jovem loira vestida de vermelho, a cor do pecado. Assustada, foi cercada em sua sala de aula e foi preciso a polícia para escoltá-la embora. Ela se foi aos prantos, no meio de mais de uma dezena de policiais. O Brasil, o país do Carnaval, foi notícia em todo o mundo pelo episódio no qual o conservadorismo e a barbárie chamam atenção. Só faltaram as pedras, só faltou a moça ser castigada em praça pública. Por pouco isso não aconteceu.


Mas o falso moralismo atacou-a novamente. O conselho de educação da universidade chegou a expedir a sua expulsão por atentar contra o estatuto e conclamaram conceitos como princípios éticos, a dignidade acadêmica e a moralidade. Falaram que a aluna provocou a reação animalesca dos outros estudantes e que estes estavam defendendo o ambiente escolar. Por alguma luz ou pressão política, o reitor acabou no dia seguinte revertendo a decisão e anulando a expulsão da vítima de assédio coletivo.


Para completar o quadro convulsivo, há agora boatos de que a loira posaria para uma revista masculina por um vultoso cachê, sem falar na instantaneidade da fama que a moça que trabalha em um mercado ganhou. Agora a história mudou. De puta ela passa a santa e a nova celebridade vai virar o jogo.  


Onde estão os verdadeiros valores nessa história toda? Parece que o ambiente da tal Uniban não é mesmo seguro e é possível especular quantos gays não sofreram agressões por lá ou mesmo mulheres e professores. Que tipo de pessoas se formam em uma universidade onde a selvageria chega a um nível destes? Quantas “putas” da Uniban serão preciso para que se um dia respeite até as putas? A moça, que não é meretriz, ficou indignada ao ser chamada de puta. Mas e se ela fosse puta? E se fosse um gay sendo perseguido? Se fosse uma questão religiosa ou racial? Parece que a maioria sempre vence no jogo da opressão e que mesmo aqueles que estão sendo massacrados até justificam tanta ignorância. Eu não sou puta, não mereço isso… mas uma puta mereceria…


Esse é o ambiente da maioria das universidades brasileiras, que abrigam pessoas que não receberam educação em casa, nem formação primária, foram parar em uma instituição particular de qualidade duvidosa por meio de um processo seletivo pífio e um dia serão os formados e doutores do nosso país. O que esperar do sistema de educação de um país de semi analfabetos, machistas e corruptos. De homens que querem se casar com virgens, que usam as prostitutas e as tratam como seres de segunda categoria. Ou então de um país onde um gay é assassinado a cada dois dias, onde crianças são mortas pelo tráfico sustentado por uma elite viciada, com um sistema no qual não há punição aos criminosos que seja superior a 30 anos, isso na teoria pois na prática são soltos bem antes. Um país no qual você é obrigado a votar, a servir o Exército e ainda chamam isso de democracia. Onde a imprensa é vetada de falar sobre alguns assuntos pelo Supremo e dizem que há liberdade de expressão. No qual a igreja evangélica cresce e prega rituais e métodos da Idade Média, embora sejam veiculados em canais de tevê abertos e até a cabo, e ainda não pagam impostos. Realmente, não se pode esperar muito, isso tudo foi bem Brasil.

O jeito é esperar ter sorte quando você for vítima de algum grupo assim. Com sorte, você ainda sai ileso e vira celebridade.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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