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Universitários de Brasília tiram a roupa contra o machismo

Redação Lado A 12 de Novembro, 2009 15h19m

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Fotos: Roberto Fleury/UnB Agência

Depois de ser hostilizada nas dependências da Uniban por usar um micro vestido rosa, a estudante Gleyse Arruda, 20, virou celebridade. Ela já recebeu convites para pousar na Playboy, foi entrevistada pela Rede TV, mudou de visual e ganhou até defensores na Universidade de Brasília (UnB), que protestaram nesta quarta-feira, dia 11, contra o machismo na Universidade.


250 pessoas, segundo a UNB Agência, participaram do protesto. Alunos, professores, funcionários e até o reitor da instituição assinaram uma carta manifestando total repúdio ao ocorrido e à direção da Uniban, de São Bernardo do Campo, SP. “A atitude de julgar a estudante a partir da roupa que trajava, se sustenta nos valores discriminatórios que integram a sociedade capitalista que vivemos, onde as representações sociais da mulher se baseiam numa ótica de subserviência masculina”, disse o documento elaborado pelos estudantes.


O protesto foi iniciado pelo Centro Acadêmico de Sociologia e divulgado via comunidades de relacionamento, como Orkut e Twitter. A estudante de Serviço Social Luana Gaudad, 20, militante do grupo Klauss, que defende a causa GLBT  disse que todos os dias grupos minoritários sofrem algum tipo de preconceito dentro da UnB e o protesto de ontem serve como um alerta à sociedade.


O reitor da Universidade de Brasília, José Geraldo de Souza Júnior, além de assinar a carta de repúdio feita pelos alunos, divulgou uma nota ao Conselho de Reitores das Universidades Brasileira (Crub) e a órgãos do governo, como a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da Republica e o Ministério da Educação, manifestando solidariedade à estudante Gleyse Arruda.


As fotos dos estudantes – alguns estavam pelados e outros apenas com roupas íntimas – foram publicadas em diversos veículos de comunicação do país.


Veja o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=vimJE2KrD1E

O manifesto dos estudantes







Carta Aberta à Comunidade Acadêmica
da Universidade de Brasília


Nós, estudantes, professores(as) e servidores(as) da UnB, viemos através dessa Carta manifestar nosso repúdio ao ato de violência machista e sexista, ocorrido no dia 22 de outubro na Universidade Bandeirantes (Uniban – SP), onde a estudante Geyse Arruda foi perseguida, agredida, ofendida e ameaçada de estupro por estar trajando um “vestido curto”. As imagens divulgadas através da mídia e na internet, chocam pelo conteúdo agressivo e pelas manifestações de selvageria e barbárie cometidas por grande parte dos estudantes da
universidade. Isso demonstra, como o machismo segue atuando de forma brutal no interior da sociedade.


Repudiamos também a direção da UNIBAN, que ao expulsar Geyse Arruda, comete da sua parte também um ato de violência, reproduzindo o machismo e a discriminação da qual a estudante foi vítima, atitude essa totalmente incompatível com uma instituição que deveria cumprir o papel de educar, e não de comercializar diplomas. Acreditamos que o espaço universitário deve ser local de construção de conhecimento que possa contribuir para a superação dos valores, vícios e práticas
machistas, e não de referendá-las.


A atitude de julgar a estudante a partir da roupa que trajava, se
sustenta nos valores discriminatórios que integram a sociedade
capitalista que vivemos, onde as representações sociais da mulher se baseiam numa ótica de subserviência masculina. Ao invés de culpabilizar a estudante pela roupa que usava, é preciso questionar o processo de mercantilização do corpo feminino, e a lógica patriarcal que define que as mulheres não podem decidir o que vestir, o que falar, o que fazer. Na raiz dessa manifestação bárbara ocorrida na UNIBAN, existem os mesmo valores machistas que levam milhares de mulheres a serem vítimas de estupros, violência física e mesmo assassinatos. A agressão contra Geyse é uma violência à todas as mulheres.


Exigimos que a Reitoria manifeste uma posição institucional sobre o caso ocorrido na UNIBAN denunciando a violência ocorrida contra Geyse Arruda bem como a punição aos agressores envolvidos no episódio, inclusive a Direção da UNIBAN. Entendemos que na UnB também são inúmeros os casos de alunas que sofrem com agressões machistas, inclusive sofrendo estupro no interior dos campi. Acreditamos que são
necessárias políticas institucionais que coíbam atitudes machistas contra estudantes, garantindo a segurança das mulheres nos campi e políticas de assistência estudantil, como creches, viabilizando a permanência das estudantes na universidade. Também reivindicamos UM Centro de Referência da Mulher e o levantamento dos dados de todos os casos de violência contra a mulher registrados nos 4 campi. Somente
com políticas concretas e cotidianas poderemos avançar no combate ao machismo em nossas universidades.


Brasília, 11 de novembro de 2009.




 

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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