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No último domingo foi decidido nas urnas que teremos um segundo turno para presidente da República. O embate final entre Dilma Rousseff do Partido dos Trabalhadores, PT, e José Serra do Partido da Social Democracia Brasileira, PSDB, será no dia 31 de outubro e teremos pouco menos de um mês intenso e cheio de dever de casa: decidir o nosso voto com base na razão.
Os gays estão divididos e deveriam votar em quem se mostrar comprometido com a causa e também levando em conta outros assuntos importantes. O apoio da ex-petista Marina Silva que correu pelo Partido Verde estas eleições seria decisório nesta etapa, já que acumulou 19,33% dos votos válidos, pouco mais do que a diferença entre Serra (32,6%) e Dilma (46,9%). Marina deve se calar, o PV deve anunciar seu apoio. Marina fez uma brilhante campanha, só vacilou ao não defender os direitos gays abertamente desde o início, mas nas vésperas das eleições anunciou ao pastor da congregação que freqüenta que é a favor dos gays sim, o que lhe tirou o apoio deste de última hora. Ela teve uma grande votação entre os gays, mesmo assumindo-se evangélica. Marina é íntegra, isso não se tem dúvidas, e já prepara terreno para as próximas eleições, por isso, não deve tomar partido agora, se for esperta.
Como nenhum dos dois candidatos do segundo turno discutiu a questão do casamento gay com clareza, embora ambos sejam a favor da união civil e contra o preconceito, não há um compromisso claro com a comunidade gay. Dilma vem de uma gestão de 8 anos de promessas, sem uma lei federal aprovada em prol dos homossexuais. Apesar de muitas verbas e eventos pagos para discussões das prioridades dos homossexuais brasileiros e até um programa chamado Brasil sem Homofobia, de fato as conquistas não avançaram, embora esteja claro que o governo Lula promoveu o debate. Lula realizou a primeira conferência LGBT , a qual esteve presente e ainda criou uma coordenação LGBT dentro da Secretaria Especial de Direitos Humanos. Porém, Lula não significa Dilma e como nada de concreto foi firmado, a continuidade da situação de impasse da era Lula não seria a melhor saída.
Por outro lado, José Serra promoveu em sua gestão como prefeito de São Paulo uma coordenação para Assuntos da Diversidade, a CADS, e ainda apoiou e participou de eventos importantes como da maior Parada Gay do mundo. Todavia, tem se mostrado tímido para declarar o apoio aos gays nestas eleições, o que leva crer que, assim como Dilma, ele não quer perder o voto do eleitorado mais conservador.
Em termos de propostas em linhas gerais para o país, os dois se mostram fracos. PT e PSDB representam os últimos 16 anos da política federal. Para os gays, nenhum deles fez um avanço concreto como a proposição de leis contra a homofobia ou pautas importantes como a união gay ou o fim do preconceito nas Forças Armadas. Como não significam mudança e não declaram apoio ou se diferenciam muito, decidir o voto fica complicado. Não podemos deixar que o preconceito nos faça vítima, a aparência dos candidatos ou fofocas. Mas o fato de Dilma ser mulher e ter lutado contra a Ditadura, leva a crer que ela deveria compreender bem as lutas sociais. Serra, por sua vez, conviveu com muitos gays no Ministério da Saúde e tem uma formação humana que lhe dá a possibilidade de olhar de outra forma para a comunidade, longe do senso comum. Os dois são muito parecidos em discurso e em formação acadêmica: ambos são economistas.
As instruções dos partidos são pesos fortes nestes casos. Embora os dois tenham origem na esquerda, tanto PT quanto PSDB tem discurso prolixo ao tratar dos homossexuais. Respeitam mas não apóiam. Torcem mas não ajudam. Falam mas não se comprometem. Dizem que entendem mas enrolam.
Esperamos que nos próximos 30 dias tenhamos uma luz, na forma de comprometimento e que assumam o que pensam de nós. Aquele que primeiro sair do armário do conservadorismo vai levar os votos de gays e das pessoas que esperam um Brasil mais moderno que deseja que o país pratique a igualdade, promova a cidadania, assim como Portugal, Espanha, Argentina e outros países latinos e católicos que já aprovaram leis pró gays.
SOBRE O AUTORRedação Lado AA Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa |
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