Há uma dificuldade de se entender os direitos gays. Para algumas pessoas, é inconcebível que gays possam andar de mãos dadas nas ruas, manifestar carinho, se casar, serem felizes, da mesma forma que é permitido aos heterossexuais. O direito do outro não diminui o meu direito, ele precisa sim se igualar ao meu.
Há diversas concepções de Deus. Da mesma forma que eu tenho o direito de ter e manifestar a minha fé, o outro deve ter. Isso inclui o respeito e direitos de quem não acredita em nenhum Deus, ou que cultue deuses antagônicos aos meus, ou demônios, espíritos ou até mesmo unicórnios e duendes. O meu direito à fé não pode interferir no direito do outro. Nenhuma fé pode ser colocada como superior, por mais que isso faça parte dos ensinamentos de tal religião. O Deus único e supremo não pode sair das portas dos templos e das consciências das pessoas. Não pode interferir no Estado ou ser usado para julgar o outro, ou o Deus do outro, ou a ausência de fé alheia.
O mesmo vale para a orientação sexual. Eu posso crer que ser heterossexual é melhor, mas jamais posso subjulgar qualquer outra orientação sexual. Posso desejar que meu filho seja heterossexual, mas não posso dizer que homossexuais não são dignos ou não são cidadãos merecedores de direitos iguais aos meus. O mesmo vale para o fato de vantajoso ser homem em nossa sociedade, mesmo assim, as mulheres não podem ser discriminadas ou prejudicadas por serem mulheres. Mesmo que haja um livro afirmando isso e que você foi ensinado a segui-lo.
No Brasil, perdemos um pouco a noção do que é o direito do outro pois somos acostumados com uma sociedade de vantagens maiores a determinados grupos, seja econômicos, raciais, famílias tradicionais ou mesmo cargo ou relacionamento interpessoal. Somos acostumados a ceder, a não exigir nossos direitos, e acabamos perdendo esse referencial de espelho. O outro, sou eu.
Ficamos calados ao ver uma injustiça e nos conformamos com o “azar” alheio ou nosso, alegando que somos brasileiros e não desistimos nunca ou apelando para o tal jeitinho depois. Por isso, algumas lutas não são de grupos individuais, são de todos. Pois a construção da igualdade de direitos é um exercício cívico e traz benefícios a toda sociedade. Ao conhecermos o caminho da promoção da igualdade teremos oportunidades para todos, lutaremos pelas nossas semelhanças e deficiências comuns, mesmo hoje estando separados pelas diferenças.
É um jogo de ceder, de ganhar e perder, com um objetivo maior. É fazer política de forma correta. Mas não é possível negociar direitos, esses não se negociam e a igualdade é o único resultado aceitável. Vivemos em uma sociedade na qual direitos e deveres não são iguais a todos, mas caminhamos a conquistas em que uma leva a outra. Começou com o fim da escravidão, o voto feminino, o divórcio e temos ainda alguns direitos a virem, como o respeito a comunidade LGBT e o aborto. São temas polêmicos, mas são direitos terrenos, que impactam sobre a felicidade diretamente dos envolvidos e não afetam a vida em sociedade.
Devemos olhar o outro sob a ótica de que se eu posso, ele também deve poder. E não nos gabarmos do que podemos mais por poder econômico ou qualquer outro que seja. Ou pior, não me ver no outro pois a situação dele não me é familiar, ou seja, renegar aceitar a mudança por acreditar que a pessoa é culpada pela própria situação em que se encontra. Esse olhar “socialista” deve permear as relações entre as pessoas e daremos então mais valor a conquistas reais e coletivas, ao invés de objetivos pessoais ou privilégio de pequenos grupos.