Arquivo

O beijo no evento evangélico, a prisão, a lei e Marco Feliciano

Redação Lado A 19 de Setembro, 2013 16h34m

As duas jovens detidas a mando do deputado Marco Feliciano protestavam contra o pastor durante o evento V Glorifica Litoral da prefeitura de São Sebastião, no litoral Norte de São Paulo, no último Domingo, dia 15. O beijo foi provocativo, lascivo e inconveniente como mostra a foto acima. Isso, porém, não dá o direito do presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal de pedir a prisão das garotas, que saíssem algemadas, e muito menos promover o linchamento moral delas, e dos gays, como ele fez em seguida.

Feliciano fala em liberdade de culto. Não há como considerar o Glorifica Litoral como um local de culto, sendo ele organizado pela Prefeitura de São Sebastião, em um local fora de um templo, com dinheiro público. O pastor é seletivo. Quer fazer valer o direito de crença, direito resguardado pela Constituição brasileira em razão do tratado da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU, mas usa este direito e sua posição de poder para ferir outros assegurados pela mesma Constituição e Declaração. No evento, foi evocado o artigo 208 do Código Penal que afirma: “Ultraje a Culto e Impedimento ou Perturbação de Ato a Ele Relativo Art. 208 – Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso: Pena – detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa”.
 
Vivemos em um país laico. O parágrafo I do artigo 19° da Constituição Federal é claro: “Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; II – recusar fé aos documentos públicos; III – criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si”. O Glorifica Litoral parte da Semana Sócio Cultural Evangélica. No ano passado, somente em shows de cantores gospel, a prefeitura gastou mais de R$100 mil com a semana “cultural”.

Então, legalmente, não poderia ali ser considerado um local de culto. O respeito porém é outro assunto, que o deputado desconhece, como demonstrou a seguir, dizendo gostaria de saber o tipo de amor e felicidade que os pais das garotas teriam em saber que suas filhas estavam “fazendo isso” no meio praça pública. Praça PÚBLICA, disse bem o deputado em vídeo divulgado em sua assessoria para mostrar o beijo das gurias e tentar se justificar. Na internet, chamou as meninas de doentes mentais.

Não era um beijo de amor entre pessoas do mesmo sexo, era um beijo de protesto, elas queriam mostrar a indignação com o deputado e não o amor gay. Feliciano é despreparado para ser pastor, deputado e mais ainda presidente de uma Comissão de Direitos Humanos. A reação de mandar prender as garotas comprova isso, chamar o evento sócio cultural de culto, mais ainda. O pior foi ouvir o pastor dizer pediria a Deus para ter piedade e à Jesus para salvar garotas. Ele tem problemas com o poder. Pede aos guardas, pede a Deus, Jesus, vende esse poder de intermédio como pastor e livrais nos Senhor se ele faz isso como deputado também. 

O local foi errado para o protesto, afinal, havia um propósito religioso no evento. Todavia, o evento é um evento sócio cultural e político, já que o deputado é sim candidato político e está se promovendo nestes encontros. O deputado quem mistura religião e política. Deveria escolher, pois mais uma vez como presidente da Comissão de Direitos Humanos, ele mostrou que não simpatiza, não entende e muito menos se interessa em entender o tema. Ao criminalizar, instituir como perturbação de culto, pedir a prisão de duas garotas por causa de um beijo gay, mostra que ele não sabe nada do que está falando sobre lei, sobre Direito Humano e muito menos sobre o cristianismo. Ele faz o mesmo na Câmara, reclama dos protestos e manda esvaziar as sessões, faz bico, promove leis claramente desumanas. Por isso é vítima de perseguição até durante voos de avião. Não porque ele é um homem de Deus como diz, atuando pela família, mas porque ele maltrata, condena, desrespeita com palavras e ações seres humanos, e ainda tem a audácia de se apoderar a cadeira de presidente da comissão criada para evitar as injustiças contra as minorias. 

Feliciano é um menino pobre que sonhou e chegou alto, sua fé é bonita, sua garra também, mas a qual custo? O que ele compromete para manter-se no poder e ganhar mais popularidade. Cria escândalos, cenas, pragueja contra a comunidade gay, se faz de vítima, usa o discurso para ganhar recursos, votos e ajuda a incentivar o preconceito contra a comunidade LGBT. Se distancia do Evangelho, se ilude com o poder, vende sua alma, sua vida e sua família. Manipula as massas com truques baratos com algo sem nexo do tipo “O sexo gay é antinatural mas meu cabelo alisado é divino”… Parou de falar dos negros, pois percebeu que contra os gays encontra mais pessoas que partilham de uma visão limitada. Mas ele tem total consciência do jogo, mas assim como um apostador inveterado ele sempre acha que terá sucesso, quer mais, mesmo que precise passar por cima de outros. Ele tem muito mais de Hitler, Mussolini e Putin do que de Jesus Cristo. A história reserva a Justiça. E a outra face, bom cristão? Onde foi parar?

Veja o vídeo divulgado pela assessoria do deputado:

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa


COMENTÁRIOS