O grupo de humor Porta dos Fundos está sendo alvo de uma denúncia feita no Ministério Público de São Paulo (MP-SP) pelo deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP). O parlamentar e pastor acusa o vídeo “Especial de Natal”, divulgado no último Natal no canal do coletivo do TouTube, de violar os direitos difusos dos cidadãos cristãos. O promotor José Paulo França Piva encaminhou à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) de SP um pedido de investigação. O vídeo satiriza o nascimento de Jesus e brinca que o anjo Gabriel anuncia a José que Maria está grávida de Deus além de outros personagens e passagens bíblicas. “Isso vai me fuder na carpintaria lá, ninguém vai acreditar nessa história”, diz José chateado no vídeo já assistido por mais de 5 milhões de pessoas.
A disputa deve discutir a liberdade de expressão e respeito aos símbolos de uma religião, dois conceitos fundamentais da Constituição de 88. “São os mesmos fanáticos e fundamentalistas que se acham no direito de chamar os negros de amaldiçoados, as pessoas LGBT de podres, e de discriminar as religiões de matriz africana, apesar de vivermos em um Estado regido por uma Constituição Federal que proíbe a discriminação”, diz nota da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), divulgada nesta segunda-feira. Para a entidade, o deputado não respeita a laicidade do Estado e de seu cargo e diz se solidarizar ao coletivo Porta dos Fundos, a quem afirma que está sendo alvo de perseguição de grupos de fanáticos e fundamentalistas.
Não é a primeira vez que Marco Feliciano tenta pegar carona no sucesso dos humoristas cariocas. Em Agosto do ano passado, o então presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara tentou uma campanha para tirar do ar um vídeo do grupo que satirizava uma mulher que vai ao ginecologista e em torno dela se formava uma romaria para ver a imagem de Jesus em sua vagina. Em seguida o grupo fez um vídeo chamado “deputado” em que satiriza a sede por mídia de Feliciano. Hilário, o vídeo termina com o deputado fazendo chapinha no cabelo.
Confira a nota da ABGLT na íntegra:
Nota Oficial da ABGLT
em solidariedade ao coletivo Porta dos Fundos pela perseguição que vem sofrendo dos grupos de fanáticos e fundamentalistas.
http://www.abglt.org.br/port/basecoluna.php?cod=327
A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT, é uma rede nacional com 285 organizações afiliadas. A missão da ABGLT é Promover ações que garantam a cidadania e os direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, contribuindo para a construção de uma sociedade democrática, na qual nenhuma pessoa seja submetida a quaisquer formas de discriminação, coerção e violência, em razão de suas orientações sexuais e identidades de gênero.
Neste sentido, a ABGLT vem a público demonstrar toda solidariedade ao coletivo Porta dos Fundos pela perseguição que vem sofrendo por grupos de fanáticos e fundamentalistas religiosos por seu humor irreverente veiculado na internet.
São os mesmos fanáticos e fundamentalistas que se acham no direito de chamar os negros de amaldiçoados, as pessoas LGBT de podres, e de discriminar as religiões de matriz africana, apesar de vivermos em um Estado regido por uma Constituição Federal que proíbe a discriminação .
A ABGLT se solidariza e será testemunha de que no Brasil não haverá censura à livre expressão da arte, conforme determina a Constituição Federal:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.
A ABGLT prima pelo respeito à liberdade religiosa e à Laicidade do estado, significando esta última a efetiva separação entre todas as instâncias do governo e as religiões. A ABGLT, com base neste princípio constitucional, vem reafirmar que quem é eleito pelo povo para exercer função pública, inclusive no parlamento, tem a obrigação de respeitar o princípio da laicidade do Estado, da mesma forma que aqueles(as) que integram organizações de classe devem respeitar os códigos de ética dessas organizações no que diz respeito à separação entre as convicções pessoais e os deveres éticos profissionais.
Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT.
03 de fevereiro de 2014
Confira os vídeos citados: