Redação Lado A | 17 de Fevereiro, 2014 | 16h43m |
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A jovem afirmou que viver no armário lhe custou muito caro, afetando até a sua saúde que que decidiu seguir os exemplos recentes de pessoas famosas e se assumir, como exemplo que possa ser para salvar vidas e ajudar outros jovens.
“Obrigado Chad, pelas palavras gentis e pelo ainda mais gentil trabalho que você e a Human Rights Campaign Foundation fazem todos os dias, especialmente a favor das lésbicas, gays, dos bissexuais e transgêneros jovens aqui e pela América. É uma honra estar aqui na conferência inaugural Time To Thrive. Mas é um pouco estranho, também. Aqui estou eu, nesta sala devido a uma organização cujo trabalho eu admiro profundamente e estou cerada por pessoas que fazem da sua vida o trabalho de melhorar as vidas dos outros. Alguns de vocês ensinam jovens, jovens como eu. Alguns de vocês ajudam os jovens a se curar e achar a suas vozes. Alguns de vocês escutam. Alguns de vocês tomam a frente. Alguns de vocês são jovens, também… nesse caso, é ainda mais estranho alguém como eu falar sobre vocês.
É estranho porque eu, uma atriz, que represento em algum sentido uma indústria em que pessoas atiram padrões em cima de todos nós. Não apenas jovens, mas todos. Padrões de beleza, de bem estar, de sucesso. Padrões que, eu admito, me afetaram. Você tem ideias plantadas na sua cabeça, pensamentos que nunca teve antes, que dizem como você deve agir, como você deve vestir e quem você deve ser. Eu tentei ir contra a corrente, ser autêntica, seguir meu coração. Isso pode ser difícil.
Mas é por isso que estou aqui. Nesta sala, todos vocês, todos nós, podemos fazer muito mais que uma pessoa sozinha. Eu espero que o pensamento inspire vocês tanto quanto faz comigo. Espero que as reuniões que vocês farão nos próximos dias lhes deem força. Porque eu posso apenas imaginar que existem dias quando vocês trabalham mais do que seus chefes sabem, ou se importam, apenas para ajudar um jovem que vocês sabem que pode ter sucesso. Dias onde você se sente completamente sozinha. Sem chão. Ou sem esperança.
Eu sei que tem pessoas nessa sala que vão à escola todo dia e são tratadas como merda por nenhuma razão. Ou você vai para casa e se sente como se não pudesse dizer aos seus pais a verdade sobre si mesmo. Além de colocar você em uma caixa ou outra, você se preocupa com o futuro. Sobre a faculdade, o trabalho, ou mesmo sua segurança física. Tentar criar aquela figura mental da sua vida – sobre o que diabos está acontecendo com você – pode arrebentar você um pouco mais todo dia. É tóxico, é doloroso, é absolutamente injusto.
Às vezes são as pequenas, insignificantes coisas que te derrubam. Eu tento não ler fofocas, como regra, mas outro dia um site fez um artigo com uma foto minha usando calça de abrigo, a caminho da academia. O redator escreveu: “Porque essa menininha tão bonitinha insiste em se vestir como um homenzarrão”? Porque eu quero ficar confortável.
Existem estereótipos perversos sobre masculinidade e feminilidade que definem como nós devemos todos agir, vestir e falar. Eles não servem a ninguém. Qualquer um que desafie essas “normas” é alvo de comentários e deboches. A comunidade LGBT sabe muito bem disso.
Mesmo assim, há coragem diante de todos nós. O herói do futebol, Michael Sam. A atriz, Laverne Cox. As musicistas Tegan e Sara Quinn. A família que apoia sua filha, ou seu filho, que saiu do armário. E há coragem nesta sala. Todos vocês.
Eu me inspirei para estar nesta sala porque cada um de vocês está aqui pela mesma razão. Vocês estão aqui porque vocês adotaram, como uma motivação real, o simples fato de que este mundo poderá ser bem melhor se apenas fizermos o esforço de ser menos horríveis uns para os outros. Se tirarmos apenas 5 minutos para reconhecer a beleza de cada um, ao invés de atacar uns aos outros pelas nossas diferenças. Não é difícil. É uma maneira fácil e melhor de viver. Em última análise, isso salva vidas.
De novo, não é fácil, de nenhuma maneira. Pode ser a coisa mais difícil, porque amar outras pessoas começa em amar a nós mesmos e aceitar a nós mesmos. Eu sei que muitos de vocês sofrem com isso. Eu acredito na sua força e no seu apoio, de maneiras que vocês nunca saberão.
Eu também faço isso de forma egoísta, porque estou cansada de me esconder e de mentir por omissão. Eu sofri por anos porque tive medo de me revelar. Meu espírito sofreu, minha saúde mental sofreu e meus relacionamentos também. Estou aqui hoje, com todos vocês, no outro lado de toda essa dor. Eu sou jovem, sim, mas o que aprendi é que amor, a beleza dele, a alegria dele, e até mesmo a dor dele, é o mais incrível presente para dar e receber de um ser humano. E nós merecemos experimentar o amor inteiramente, igualmente, sem vergonha nem compromisso.
Muitos jovens lá fora estão sofrendo bullying, rejeição, ou apenas sendo maltratados por causa do que eles são. Muitos saindo da escola. Muito abuso. Muitos saindo de casa. Muitos suicídios. Vocês podem mudar isso e estão mudando isso.
Mas vocês nunca precisaram de mim para dizer isso. Por isso é um pouco estranho. A única coisa que eu realmente posso dizer é o que eu estou construindo para os últimos cinco minutos. Obrigado. Obrigado por me insporar. Obrigado por me dar esperança, e por favor, continuem mudando o mundo para pessoas como eu.
Feliz Dia dos Namorados, amo vocês”.
SOBRE O AUTORRedação Lado AA Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa |
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