O título do artigo poderia ser “Reflexões sobre a identidade gay”, porque quando me refiro a “ser gay” estou me referindo a uma referência identitária que está longe de ser pacífica em nossa sociedade.
A expressão gay é um termo de origem recente inglesa que é utilizado normalmente para se designar o indivíduo, homem ou mulher, homossexual.
O termo foi adotado em outras línguas, sendo muito usado no Brasil. Embora, a palavra gay seja usada como denominador comum entre homens e mulheres homossexuais, tal uso em nosso país tem sido mais utilizado para se referir aos homens homossexuais.
A palavra inicialmente não tinha relação com a orientação sexual. Era usada para designar uma pessoa espontânea, alegre, motivada e feliz. Porém, o significado mudou radicalmente nos Estados Unidos, vindo a assumir o significado atual, que, com a propagação da cultura norte-americana no resto do planeta, tem sido cada vez mais utilizado.
No Brasil, o termo, já marcado pela conotação sexual, ao ser inicialmente difundido, era utilizado principalmente de forma pejorativa e contra os homens gays. Contudo, a apropriação e utilização da palavra pelos próprios homossexuais, a se referirem a si mesmos, fez com que a conotação negativa fosse amenizada.
O principal evento que mudou o significado negativo da palavra foi a Rebelião de Stonewall que consistiu em um conjunto de eventos de conflito violento entre gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros e a polícia de Nova Iorque que se iniciaram com uma carga policial em 28 de Junho de 1969 e duraram vários dias. Teve lugar no bar Stonewall Inn e nas ruas vizinhas, e é reconhecida como o fenômeno catalizador dos atuais movimentos em defesa dos direitos civis LGBT. Stonewall foi um marco por ter sido a primeira vez em que um grande número de pessoas LGBT se juntou para resistir aos maus tratos da polícia contra a comunidade gay.
Apesar de ter sido uma situação violenta, deu à comunidade até então marginalizada seu primeiro sentido de orgulho, o denominado orgulho gay. A partir da primeira parada que comemorou o aniversário da Rebelião de Stonewall, nasceu um movimento social nacional, e atualmente um número cada vez maior de países em todo o mundo celebra o orgulho gay ou orgulho LGBT. O movimento vem promovendo a causa dos direitos LGBT, pressionando autoridades e aumentando a visibilidade para informar e educar sobre questões importantes para a comunidade LGBT.
Toda essa explicação inicial e histórica é para indicar que a palavra gay hoje é uma expressão muito importante para a comunidade LGBT, especialmente para os homossexuais masculinos, porque ela representa uma conquista de um lugar socialmente visível e positivo. Ela indica que os homossexuais existem, que eles são cidadãos e devem ser tratados como tal, até mesmo mais do que isso, exigem ser tratados como iguais em relação ao exercício dos direitos civis. É uma expressão identitária que, ao mesmo tempo em que marca uma diferença necessária, um lugar social, ou seja, “eu sou um homem gay, mas continuo sendo um homem e exijo respeito”, aponta para um senso de valor próprio, de auto-apreciação, que indica a necessidade de uma maior igualdade de direitos.
Assim, “ser gay” é, antes de tudo, um “estado de espírito”, uma pré-disposição subjetiva, um estado positivo de ser que deve ser reconhecido e assumido por todos os homossexuais masculinos na luta pela igualdade e pelo respeito aos seus direitos como cidadãos e seres humanos. Não é uma opção, mas sim uma conquista, um referencial positivo e apreciativo de uma identidade construída a duras lutas, ou seja, um estado ampliado de consciência de si que, apesar de ainda cobrar um preço alto em uma sociedade fortemente homofóbica e heterocentrada como a do Brasil, traz uma liberdade de escolhas e, principalmente, de ação que não tem preço.
SOBRE O AUTOR: Paulo Cogo é Psicólogo Especialista em Psicologia Transpessoal pela UNIPAZ, atuando nas áreas clínica e organizacional, dentro do enfoque da Psicologia Afirmativa; Doutor e Mestre em Sociologia pela UFRGS; Professor e pesquisador dos cursos de Psicologia, Comunicação Social e Design na UniRitter; Personal Coach nas áreas de planejamento e gestão de carreira.