A expressão “sair do armário” no contexto da clínica homoafetiva, ou seja, na clínica que trata dos pacientes homossexuais, homens e mulheres, se refere ao processo de afirmação pública de uma identidade gay positiva.
Na minha experiência clínica de mais de vinte anos atendendo pacientes, grande parte deles homossexuais, pude verificar que poucos se encontram fora do armário, devido ao alto nível de homofobia social, familiar e institucional existente em nosso país. A grande maioria vive enclausurada, com medo de ser descoberta, ou pior ainda, alienada da sua condição e possibilidade de libertação, negando, escondendo ou não percebendo o alto preço de viver uma vida secreta, escondida ou dupla.
A decisão e o ato de sair do armário é um processo, na maioria das vezes, longo, conflitivo, permanente e não linear, ou seja, onde os indivíduos ora conseguem se libertar dessa condição com mais facilidade e ora retornam para esse estado de privação e desconforto, devido às pressões internas, fruto da homofobia internalizada ainda não resolvida.
Apesar das dificuldades ou desafios que esse processo de sair do armário impõe aqueles que o vivenciam trata-se de um processo essencial para a construção e afirmação de uma identidade gay positiva e afirmativa.
A grande escritora, filósofa existencialista e feminista francesa Simone de Beauvoir escreveu no ensaio filosófico O segundo sexo, publicado pela primeira vez no ano de 1949, uma profunda análise sobre o papel das mulheres na sociedade: “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. O mesmo ocorre com os homens e mulheres homossexuais, pois ninguém nasce gay, torna-se gay, ou seja, tornar-se gay é um processo longo, demorado e conflitivo para a maioria dos homossexuais.
E nesse processo de vir a ser gay, ou seja, de construir e afirmar uma identidade gay positiva e afirmativa perante a sociedade, o processo de sair do armário é uma das principais etapas.
Nesse sentido, apoiar e acompanhar os pacientes gays que manifestam o desejo de construir e afirmar uma identidade gay publicamente é uma das etapas mais importantes da terapia afirmativa, abordagem que, independente da orientação teórica ou formação técnica do psicoterapeuta, ajuda no desenvolvimento de uma identidade homossexual positiva, entendida nessa perspectiva como uma expressão natural, espontânea e positiva da sexualidade humana, em nada inferior à identidade heterossexual.
Ao transmitir aos pacientes durante o processo terapêutico absoluto respeito por sua sexualidade, sua cultura e seu estilo de vida, os terapeutas afirmativos ajudam os indivíduos homossexuais a perceberem o alto preço pago de uma vida enclausurada, apartada da sociedade, possibilitando a descoberta de novos caminhos para o exercício de uma identidade e sexualidade homossexual livre, espontânea e criativa.
SOBRE O AUTOR: Paulo Cogo é Psicólogo Especialista em Psicologia Transpessoal pela UNIPAZ, atuando nas áreas clínica e organizacional, dentro do enfoque da Psicologia Afirmativa; Doutor e Mestre em Sociologia pela UFRGS; Professor e pesquisador dos cursos de Psicologia, Comunicação Social e Design na UniRitter; Personal Coach nas áreas de planejamento e gestão de carreira.