Redação Lado A | 22 de Janeiro, 2015 | 15h53m |
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No Brasil os estudos científicos sobre homofobia no trabalho ainda são raros e os dados do Ministério do Trabalho muito incipientes, ou seja, a homofobia é subnotificada ou mal notificada. Acontece que os trabalhadores vítimas desse tipo de homofobia na maioria das vezes não ficam sabendo que os problemas que enfrentam são decorrentes da homofobia, ou, sabendo se tratar de homofobia, por não terem assumido ainda publicamente sua orientação sexual, e temendo represálias, não produzem provas contra o empregador, não denunciando e enfrentando o problema. As empresas que demitem por homofobia nunca vão assumir que o fazem por esta razão, restando ao trabalhador demitido buscar proteção judicial através da promoção de uma ação reparadora dos danos causados.
Afirmar que a homofobia mata e que a homofobia no trabalho demite é na prática dizer a mesma coisa, pois a demissão, fruto de atos de homofobia, é sempre vivenciada pelo trabalhador como uma morte, inicialmente lenta e silenciosa e, uma vez efetivada a demissão, uma morte súbita, cruel e, na maioria das vezes, injusta. Como enfrentar a homofobia no trabalho? Não existe uma fórmula, porém existem ações que podem e devem ser promovidas para que os homossexuais possam ficar um pouco mais protegidos, até que seja criada e aprovada uma lei que proíba e condene esse tipo de homofobia com rapidez e justiça.
Existe um grande paradoxo na questão da homofobia no trabalho. Qual é ele? Como psicólogo afirmativo recebo todos os dias em meu consultório pacientes homossexuais que em algum momento sofreram ou sofrem atos de homofobia no trabalho. E o que ocorre? A maioria acaba aceitando ou não enfrentando, pois teme que a sua orientação sexual seja revelada e que, uma vez isso ocorrendo, eles não saibam ou consigam enfrentar esta questão. Na prática, acabam negando a homofobia sofrida ou se adaptando ao jogo perverso homofóbico que ocorre em muitas empresas.
No entanto, para a clínica homoafetiva, a tomada de consciência por parte do paciente homossexual da sua orientação sexual e a capacidade de construir uma identidade de gênero positiva e afirmativa é uma etapa essencial do processo de cura da homofobia internalizada. Assim, assumir a própria orientação e afirmar publicamente uma identidade de gênero e uma orientação sexual em uma sociedade heterocentrada é, ao mesmo tempo, um ato de coragem e de libertação (equivale ao denominado processo de “sair do armário”). Porém, ao assumir publicamente uma orientação sexual homossexual no ambiente de trabalho o trabalhador, na maioria das vezes, em razão da maioria das empresas possuir uma cultura de trabalho homofóbica e uma gestão de pessoas que não valoriza a diversidade, passa a ocupar uma posição de fragilidade, pois seus pares, superiores e subordinados tendem a rejeitar orientações sexuais não heterossexuais. Se o trabalhador homossexual a partir do momento em que assume sua orientação sexual publicamente no ambiente de trabalho não tomar as devidas precauções, o que normalmente ocorre é um processo de invisibilidade que acaba levando à demissão.
A maioria das empresas já sabe que atitudes homofóbicas são politicamente incorretas, além de ilegais, então para mascarar uma posição de tolerância agem como se tudo estivesse ok, porém estrategicamente vão isolando o trabalhador homossexual e afetando sua autoestima negativamente ao tratá-lo com indiferença, sobrecarregando de atividades, não reconhecendo suas contribuições, não oportunizando desafios e, principalmente, criando situações que vão gerando uma “suposta incompetência desse trabalhador”. É muito fácil para uma empresa transformar um bom trabalhador homossexual em um incompetente profissional ao isolá-lo, tratá-lo com desprezo ou sem reconhecimento.
Como resolver esse paradoxo? Produzindo provas contra empregadores e colegas homofóbicos, denunciando atos homofóbicos em todos os órgãos de defesa dos direitos humanos e dos trabalhadores e não se curvando à violência homofóbica. Felizmente o direito homoafetivo vem crescendo em nosso país e é cada vez mais viável denunciar e comprovar o nexo causal entre a homofobia no trabalho e a demissão, por exemplo. Não tenha medo, enfrente a homofobia no trabalho, denuncie, procure os seus direitos, ingresse com uma ação de homofobia e, acima de tudo, não se curve à ditadura da orientação heterossexual no trabalho. Trabalhadores gays, de acordo com os melhores estudos internacionais, são mais criativos, produtivos e resilientes, pois tiveram que enfrentar muitos desafios e preconceitos para sobreviver em um mundo do trabalho tão preconceituoso, machista e homofóbico, e as melhores empresas privadas do planeta aprenderam que a orientação sexual não define um indivíduo e sim o seu caráter, honestidade e competência. Estas empresas são as que mais têm se destacado no ambiente empresarial globalizado.
Paulo Cogo é professor de Psicologia e Psicólogo Especialista em Psicologia Transpessoal pela UNIPAZ, atuando nas áreas clínica e organizacional, dentro do enfoque da Psicologia Afirmativa; Doutor e Mestre em Sociologia pela UFRGS;
SOBRE O AUTORRedação Lado AA Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa |
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