Pergunta enviada por leitor da Lado A: Faço e refaço, constantemente, o seguinte questionamento para mim mesmo, no silêncio de minhas observações e análises do que vejo e ouço por aí, via mídia ou não: Como Jesus trataria hoje, além dos pobres, os homossexuais? Não seria esse um questionamento que os cristãos deveriam fazer e, mais do que isso, praticar?
Pastor Cristoffer responde: Caro leitor, sua pergunta é muito curiosa e coerente e desperta em nós muita curiosidade. E se eu te contasse como Jesus trataria um homossexual hoje, avaliando como ele tratou no passado quando esteve a frente de um. O que você me diria?
Vamos ao fato: Como em toda a Bíblia, os escritores sacros não procuraram dar ênfase a outros povos e culturas. A identidade judaica é a principal marca cultural presente na Bíblia. O que extraímos de costumes e práticas de outras culturas e povos é conseguido graças a estudos comparativos, históricos e linguísticos. O caso do centurião de Cafarnaum pode ser o único registro bíblico entre Jesus e um homossexual. Episódio que mereceu menção nos Evangelhos em virtude da grande fé do militar romano.
O milagre da cura do servo do centurião encontra-se narrado por Mateus, Lucas e João. Cada um dos evangelistas narra a história com diferentes nuances, cada uma delas com detalhes bastante reveladores e complementares.
No relato de Mateus 8.5-13, o comandante romano referiu-se a seu escravo empregando a palavra grega “pais”. Esse é um termo bastante intrigante quanto ao seu sentido. A palavra grega pais tem vários significados: criança (Mateus 21.15), menino (Mateus 17.18) e servo (Mateus 8.6). Neste último caso, embora em um sentido pouco comum, pode ser traduzida e interpretada como um escravo jovem cujo proprietário mantém para favores sexuais. O termo pederastia deriva do mesmo radical (paiderastia). As várias traduções suprimiram as possíveis conotações sexuais do termo utilizando as expressões “meu servo”, “meu empregado”. A versão ARA utilizou uma expressão um tanto curiosa: “meu rapaz”. Tais relações com conotações sexuais eram bastante comuns no Império Romano e, embora condenadas pela tradição judaico-cristã, a sociedade romana as tolerava. É fato que havia um componente abusivo em tais relações, mas este não parece ser o caso do centurião, já que Lucas acrescenta que o servo lhe era muito querido (Lucas 7.2), o que explica o esforço do comandante em buscar a ajuda de Jesus. Lucas também utilizou a palavra entimos, termo que denota, também, afetividade e intimidade. O fato de o Centurião não se ter ausentado de casa durante a doença do servo (Lucas 7.6) também reforça a possível relação afetiva entre eles, pois tal gesto sugere cuidado e proteção.
O relato de Lucas se refere ao servo como doulos, termo mais específico que significa servo, porém sem uma conotação de escravidão. Tal acepção reforça o conceito de que não se tratava de um escravo comum. O texto de João o coloca como filho do comandante, o que reforça os laços afetivos entre eles, já que um filho desfruta de tratamento e consideração superior à relação senhor/servo (João 4.46). Porém, é improvável que se trate de um filho, pois o termo doulos usado por Lucas descarta tal interpretação.
Lucas também afirma que ele havia construído uma sinagoga (7.5b), portanto o centurião era um homem rico e poderia substituir facilmente o servo a qualquer momento, bastaria comprar outro. As motivações do centurião são, antes, afetivas ou, mais provavelmente, homoafetivas. O mesmo texto indica que, possivelmente, era um homem temente a Deus, porque, além de construir a sinagoga, Lucas acrescenta que ele amava a nação de Israel.
Jesus conhecia o coração e a vida íntima daquele homem, entretanto, ele não condena sua relação. Jesus poderia ter exposto na frente de todos a relação daquele homem com seu servo e dizer algo do tipo “antes de ser curado, vai e termine esta relação homo afetiva e depois traga ele aqui para ser curado”, porém, antes, elogiou sua fé, curando seu servo.
É interessante mencionar, como já vimos que Jesus contrariou muitos preceitos da tradição religiosa e cultural judaica, quebrando paradigmas e revelando uma nova realidade para seus seguidores.
Nota-se que toda vez que Jesus elogiava alguém era para exaltar aquele que já se sentia inferior, tanto prova que ele não se sentia digno de Jesus entrar em sua casa, pois ele sabia que o Senhor sabia de sua relação e tinha constrangimento de expor e ser “condenado” por Cristo.
Mas Jesus fez ao contrario que todos esperavam e mostrou que o povo não devia condenar aquela pessoa e sim admirar a sua fé. Fé esta que só pediu apenas uma única palavra para ser proferida pelo Senhor e obter a cura sem precisar ir até o local, onde se encontrava o servo.
Neste texto de Mateus 8:5-13, mostra claramente que o Senhor esteve à frente de um homem que tinha um caso homoafetivo naquela época, e em vez de julgar ele foi amoroso e paciente como foi com todos que a Ele procuravam. Isto prova que não devemos condenar a ninguém e nem julgar, pois era isto que a sociedade fazia e faz até hoje.
Vamos fazer o que manda Deus em Marcos 12-31:30:
Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força.
O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.
Vamos deixar de pregar leis, regras e condenações, para pregar o amor que Jesus ensinou, fique na paz.
Pastor Cristoffer Zilotti é fundador da Comunidade Abraça-me Curitiba. Envie suas perguntas para nosso colunista no email cristoffer_4@hotmail.com