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Em curiosa carta, Freud fala sobre homossexualidade a mãe de jovem gay

Redação Lado A 06 de Março, 2015 09h35m

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Uma carta escrita à mão pelo pai da psicanálise Sigmund Freud, datada de 1935, hoje parte do acervo do Museu da Sexologia, em Londres, mostra o que pensava o médico austríaco sobre a homossexualidade. O documento é a resposta de Freud a uma mãe preocupada com a homossexualidade do filho. Freud deixa claro que não considera a homossexualidade uma doença, que não confia em uma possível reversão da sexualidade e que o melhor é discutir as angústias do filho e não o fato de ele ser homossexual, embora o terapeuta afirme que é possível resgatar tendências heterossexuais adormecidas, ele diz que não é garantido o resultado e que na maior parte dos casos é impossível.
A carta já começa com Freud cutucando o preconceito e vergonha da mãe, que não cita a palavra homossexual ao se referir ao rebento.

A carta de Freud chegou até o sexólogo norte americano Alfred Kinsey (1984-1956) e foi publicada em uma edição do Jornal Americano de Psiquiatria em 1951, colaborando para a retirada da homossexualidade do rol de doenças psiquiátricas nos EUA trinta anos depois e finalmente em 1991 no rol de doenças da Organização Mundial da Saúde.

Confira a carta:
 

Cara Sra. ,
 
Vejo pela sua carta que seu filho é homossexual. Estou muito impressionado com o fato de você não mencionar o termo ao fornecer informações sobre ele. Posso perguntar por que você o evita? A homossexualidade não é certamente nenhuma vantagem, mas não é nada do que se envergonhar, nenhum vício, nenhuma degradação; ela não pode ser classificada como uma doença; consideramos ser uma variação da função sexual, produzida por uma certa interrupção do desenvolvimento sexual.
 
Muitos indivíduos altamente respeitáveis de tempos antigos e modernos eram homossexuais, vários dos maiores homens entre eles. (Platão, Michelangelo, Leonardo da Vinci, etc). É uma grande injustiça perseguir a homossexualidade como crime – e crueldade também. Se você não acredita em mim, leia os livros de Havelock Ellis.
 
Ao perguntar-me se eu posso ajudar, você quer dizer, suponho, se posso abolir a homossexualidade e instaurar a normalidade da heterossexualidade em seu lugar. A resposta é que de maneira geral não podemos prometer resultado. Em determinados casos conseguimos despertar tendências heterossexuais reprimidas, que estão presentes em todos os homossexuais, mas na maioria dos casos não é mais possível. É uma questão da qualidade e da idade do indivíduo. O resultado do tratamento não pode ser previsto.
 
O que a análise pode fazer por seu filho é uma questão diferente. Se ele é infeliz, neurótico, dilacerado por conflitos, inibido em sua vida social, a análise pode trazer harmonia, paz de espírito, eficiência, quer ele siga homossexual ou se modifique. Se você se convencer de que ele deve fazer análise comigo – eu não espero que aconteça – ele terá de vir para Viena. Eu não tenho nenhuma intenção de sair daqui. No entanto, não esqueça de me dar a sua resposta.
Atenciosamente seu com os melhores votos,
 
Freud
 
P.S. Não achei difícil entender a sua letra. Espero que você não ache entender a minha escrita e o meu inglês uma tarefa mais difícil.

 

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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