O estudante de Publicidade e Propaganda Antônio Carlos Archibald, 23 anos, se mudou com a família de São Paulo para São Carlos, a 230 quilômetros da capital, no ano passado, para fugir da violência urbana. Ele jamais imaginou que teria seu rosto rasgado ao ser agredido dentro da faculdade para qual transferiu seu curso, Centro Universitário Unicep, por outro aluno, depois de uma discussão banal em sala de aula com a namorada do agressor. Nesta sexta-feira, depois de pedir educadamente silêncio na sala de aula e haver provocações como “engrossa essa voz”, pediu para a colega de sala que insistia em atrapalhar a aula para “calar a boca”. A moça respondeu: “Que ‘viado’ nenhum iria falar assim com ela”. Depois de trocarem ofensas, a professora ameaçar chamar a segurança em razão da alteração da moça, a estudante insistiu e avançou sobre ele e lhe deu um tapa no rosto. A garota continuou a ir para cima de Antônio e foi afastada por ele por um empurrão e acabou caindo no chão. Nesse momento ele ouviu os amigos da garota alegarem que ele a agrediu. Mas em momento algum houve confronto físico, quando a garota o agrediu, conta Antônio, ele não reagiu, apenas se defendeu depois de levar um tapa no rosto.
Antônio decidiu sair da sala e ir na coordenação reportar o ocorrido. Como não encontrou ninguém, ia para casa, quando recebeu uma ligação da coordenadora do curso pedindo para ele retornar à faculdade pois a garota estava na sala dela e queria pedir desculpas.
No primeiro dia de aula com a nova turma, no mês passado, o estudante transferiu o curso e antes estava no quarto ano e precisava completar a sua grade para se formar, Antônio se apresentou à turma como homossexual. Para ele, era uma forma de evitar fofocas desnecessárias e não havia problema algum pois não considera ser gay um defeito. Com o passar do tempo, relevou ele para a Lado A, percebeu que o novo ambiente universitário era mais conservador, ouviu comentários de que “os gays estão dominando o mundo”, “o que as crianças vão aprender”, “eu não tenho preconceito mas poderiam fazer isso entre quatro paredes” ou que era “uma pouca vergonha” o beijo gay na novela. Mesmo assim, Antônio jamais imaginou que poderia ser vítima de qualquer tipo de homofobia na universidade, ainda mais por pedir silêncio na sala de aula.
Ele estacionou seu carro frente ao bloco da coordenação e ao se dirigir ao encontro com a coordenadora avistou dois alunos da sua sala e o namorado da garota, ele desviou do grupo e correu para uma sala, onde foi encurralado, sendo alcançado com um murro nas costas. Sem dizer uma palavra, o namorado da garota, que também estuda de noite na Unicep, pegou seu rosto e empurrou contra o vitrô da parede da sala. Ele forçou seu rosto contra o vidro que atravessou sua bochecha direita. Na hora, já sem conseguir enxergar por conta do sangue que vertia em grande quantidade, ele ouviu: “’viado’ tem que apanhar” e “Isso é para você ‘viado’ aprender a não bater em mulher”. Desesperado, ele gritou pela coordenadora do seu curso, que o ajudou e chamou uma ambulância.
“Eu poderia ter morrido. As pessoas tem que aprender que incentivar esse preconceito elas podem causar mortes, são corresponsáveis”, afirmou o estudante para a Lado A. Para ele, o fato de ser gay motivou um simples pedido de silêncio se transformar na agressão que deformou temporariamente o seu rosto. Ele questiona se a namorada estava envolvida com a agressão armada da qual foi vítima.
O estudante, que é modelo fitness, treinou os últimos três meses para participar de seu primeiro concurso de fisiculturismo no próximo mês. Ele recebeu patrocínio de uma empresa de suplementos, mas não pretende se apresentar em razão das condições do seu rosto. “Dou graças a Deus que foi na faculdade”, conta ele que disse que não foi socorrido pelos outros alunos e que se a agressão fosse em outro lugar, poderia ter sido pior. “Não entra na minha cabeça o que aconteceu”, revela ele, que citou que havia um certo bullying com ele antes do ocorrido naquela turma, principalmente por causa de suas regatas de academia e por pedir silêncio aos outros alunos durante as aulas para poder se concentrar e estudar. Antônio acorda todos os dias às 5h da manhã para treinar, depois segue para seu trabalho em uma transportadora e de lá para a faculdade.
Além dos 26 pontos na bochecha e outros na cabeça, feitos depois de 3 horas no pronto socorro, Antônio ganhou uma declaração linda de seu pai, com quem nunca tinha conversado sobre ser homossexual. O pai, ao ser entrevistado por uma TV local, afirmou sobre o filho ser gay: “Meu filho é normal, senão mais normal do que os outros. Ser gay é apenas mais uma qualidade dele”. Ele vem recebendo apoio e solidariedade da família, amigos e da coordenadora da Unicep. Para o futuro, Antônio espera criar um grupo de apoio à diversidade na faculdade e debater o tema no ambiente universitário.
Na segunda-feira ele registrará a ocorrência policial do caso e espera que a agressão seja tratada como homofobia e que os aalunos envolvidos sejam responsabilizados criminalmente.