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O monólogo do Cu

Redação Lado A 05 de Abril, 2015 14h11m

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Cansei de tomar. Cansei. Para todos e para tudo, mandam tomar em mim. Cansei também das pessoas errarem o meu nome. Me chamo CU, sem acento. As monossílabas tônicas são acentuadas, as terminadas em A, O e E apenas. E nos encontros vocálicos, I e U são meras semi-vogais. Assim como apenas o pênis e a vagina são tidos como genitálias e eu não. Injusto, mas a vida é assim. Restou para mim, o Cu, apenas ser o final do seu sistema  digestivo. Existe uma frase boa para lembrar o meu nome. “Cu não tem acento, o assento que sempre tem cu”.

Acredite. O que você vê do lado de fora se repete na parte de dentro. Sou formado pelo esfíncter externo e o interno. Você controla o externo, eu controlo o interno. Sou bem mais complexo que você pode imaginar e tenho personalidade forte. Você já deve ter percebido.

Por natureza, sou discreto. Por trás de todo par de nádegas, eu habito. Faço o meu trabalho, sem alarde. Meu aspecto enrugado e compacto talvez não revele que eu sou a primeira parte do corpo dos animais vertebrados a ficar pronta. Ou seja: eu represento a evolução. Represento também o elemento cobre na química, e sem trocadilhos, as grandes personalidades acabam virando bustos de cobre… Cuba também tem a sigla CU, mas isso não foi nenhuma sacanagem americana.

Historicamente fui julgado e condenado. Talvez por pôr a mão na massa e fazer o trabalho sujo. Por me localizar em uma parte difícil de se ver, raramente sou visto olhos nos olhos. Aliás, este é um outro apelido que recebi entre outros como cortador de bosta,  ânus, anel, anel de couro, argola, ás de copas, brioche, brioco, buraco, botão, cofrinho, copinho, feofó, fiofó, fundão, fundo, furebis, furico, furo, rabicó, rabiosque, rabo, rosca, rosquinha, tarraqueta, tchola, toba, tuim, entre outros.

Mas, na verdade, o homem me deseja e teme o meu poder. Por exemplo, o hétero me deseja nas mulheres e esquece que ele tem um fora de uso (não válido para todos)… ou seja, o que ele mais morre de medo é descobrir os prazeres que eu posso proporcionar. E eu vou contar: nos homens, além do prazer captado pelas paredes do reto, eu ainda estimulo a próstata. Descobriu-se o ponto C. Se você é hétero e achou essa conversa muito gay, vá procurar um psicólogo, pois estimular o prazer anal não significa ser penetrado ou mesmo transar com outro homem, basta massagear a musculatura atrás do saco, seu escroto. Agora, se você gostou da idéia da penetração, saiba que vai doer um pouquinho nas primeiras vezes. E não fique perturbado se você já massageava atrás do saco…

Converse com o seu Cu. Não esqueça que ele também merece a sua atenção e não deve ser lembrado apenas nas horas prazerosas ou de revolta. Não se esqueça que um dia, na infância, vocês foram grandes amigos. Saiba que assim como todo o seu corpo eu reajo nas horas de medo, alegria e tesão… E, por favor, não beba demais, pois o ditado você já conhece… Cu de bêbado, não tem dono.

Texto revisado, originalmente publicado em: 14- 07- 2006

 

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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