Redação Lado A | 17 de Junho, 2015 | 14h35m |
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A Bíblia, o Antigo Testamento (1500 e 450 a.C.) é tido como sagrado e inspirado por Deus pelos cristão, mas é considerado um livro escrito pelos homens pela tradição judaica. É um livro que narra a história do povo de Israel. Segundo a história, as três religiões Judaísmo, Cristianismo e Islamismo surgiram do mesmo antepassado comum. A maior parte das Bíblias brasileiras do Novo Testamento foi traduzida do latim, da versão oficial criada pela Igreja Católica.
Dentre as religiões politeístas à época do Novo Testamento (45 a 75 d.C), temos a religião romana, baseada em mitologia e sincretismo, incluindo rituais onde se praticavam orgias. Lemos em Romanos 1:23, em carta enviada por Paulo aos Romanos, que tomavam à época a região da Judéia, sendo estes opressores diretos dos judeus e cristãos. Na abertura da carta, Paulo justifica que a idolatria por parte dos romanos a deuses antropomórficos os fez se entregarem a prazeres carnais antinaturais à natureza do homem. “E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si;” O que se lê não é um ataque a sexualidade dos romanos mas ao politeísmo e a discordância religiosa. O erotismo e sacrifícios durante rituais religiosos diferenciavam as religiões antigas das religiões monoteístas ao qual o cristianismo foi se somar e isso era usado como forma de provar que se afastaram de Deus e se aproximavam dos animais.
“E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro” Romanos 1: 27 – O erro, conforme diz Paulo, foi se afastar de Deus e não o contrário.
Em Coríntios, mais uma vez uma carta direcionada a outra comunidade, Paulo diz: “Não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis; nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem afeminados, nem sodomitas…”. Sobre o que foi traduzido como afeminados e sodomitas, na versão original, foram usadas as palavras malakoi e arsenokoitai. Malakoi foi primeiramente traduzido pela Igreja Católica como pervertido, e arsenokoitai referindo a masturbação, até a Idade Média. As palavras se referem a desvio moral, malakoi significa “mole”, e arsenokoitai é um mistério linguístico pois não há registro desta palavra em grego arcaico, alguns atribuem ela como neologismo criado por Paulo. A primeira tradução para o inglês, a Bíblia do Rei James, mais uma vez remeteu o termo aos masturbadores “abusadores de si mesmo”. Algumas bíblias “modernas” incluem a palavra homossexual neste versículo, outras, vão além, como Bíblia da Nova Versão Internacional (NVI) que especifica: “nem homossexuais passivos ou ativos herdarão o reino dos céus”, como tradução às duas palavras em grego. Neste caso não há qualquer sentido atribui as palavras à orientação sexual. Primeiro pois orientação sexual não era uma definição à época, a práticas homoeróticas eram comuns entre alguns povos e amplamente aceitas em tempos de guerra.
Nas traduções bíblicas das leis judaicas, pois o Antigo Testamento é um livro judaico e não cristão, mas sendo usado por estes por terem origem na linhagem de Abraão, diz: “Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; é abominação (Levítico 18:22)”. Toevah, a palavra em hebraico traduzida como “abominação”, na verdade significa impureza, usado em outros “artigos” do mesmo texto como reprovação de contravenção ritualística. Já no capítulo Lev 20:13, sobre crimes – especificamente destinado ao povo de Judá, a bíblia hebraica diz: “Se um homem se deitar com outro homem, como se fosse com mulher, ambos terão praticado abominação (toevah); certamente serão mortos; o seu sangue será sobre eles. Já na Bíblia Almeida, o “certamente serão mortos” é trocado por “serão mortos” e o “seu sangue cairá sobre eles”. Mais uma vez a proibição vem em capítulos que se referem a fé e rituais claramente direcionados aos judeus (Antigo Testamento). Ou seja, condutas dentro de templos, ou de adoração, ou especificamente às leis judaicas, tendo em vista que muitos ainda frequentavam templos de outras religiões, inclusive por conta da invasão romana que tenta promover a paz entre as tribos de Israel.
Sobre sodomitas serem sinônimo de homossexuais, a versão hebraica da Bíblia é clara: Em Exodus, Antigo Testamento, dois anjos visitam Sodoma e Lot os acolhe em sua casa, sabendo que dois forasteiros correm risco à noite, sozinhos na cidade. Os moradores então tentam invadir a casa de Lot mesmo depois dele oferecer suas filhas aos homens para que deixem os visitantes em paz. Eis que alguns autores sugerem que os homens queriam violentar os visitantes, mas na verdade forasteiros não eram bem vindos em pequenas cidades, como seria ainda hoje em dia em locais hostis, lembrando que a região sempre viveu em clima tenso, até hoje. Os anjos cegam os homens e ajudam Lot a se afugentar com sua família.
As cidades de Coríntio, Roma, Sodoma e Gomorra ficavam fora do reino de Judá, possuíam outra cultura, tendo inclusive grande número de prostitutos ritualísticos, que rodeavam os templos para se oferecerem ao culto aos deuses e aos prazeres carnais. Alguns eram escravos, o que poderia acontecer com forasteiros que chegassem à cidade sem referências. As críticas da Bíblia original eram a estes homens que cultuavam outros deuses e se impunham politicamente e militarmente sobre a Judéia, bem como aos persas e afins. Tanto é verdade que os próprios gregos não eram criticados por seus costumes ou religião pelos cristãos e nem pelos judeus. Paulo visitou Atenas e morou na Grécia por dois anos, seus textos foram escritos em grego, e nada é dito contra a homossexualidade dos gregos, nem na Grécia ou como das outras cidades helenísticas da região da Judéia, ou no Egito, onde também eram bem aceitas as relações entre dois homens. Paulo falou de sua fé, discutiu sobre religião com os gregos e egípcios em praça pública, condenou o politeísmo, mas sobre eles não fez um comentário declarando impuros os seus costumes de aceitar a homossexualidade, inclusive como relação matrimonial por lá, mas sempre deixou claro a contrariedade à promiscuidade ritualística. Lembrando que até então o cristianismo aceitava a poligamia, o incesto e a escravidão.
Fica claro que a proibição bíblica a homossexualidade se refere aos costumes de povos inimigos, a ritualística de suas religiões e a promiscuidade, tanto é verdade que a Bíblia mesmo traz dois exemplos de relacionamentos entre homens, Davi e Jonatas, descrito em dois capítulos (Samuel), futuro Rei Davi que matou Golias e pai do Rei Salomão, e a cura feita por Jesus do servo predileto do Centurião do Templo romano em Cafarnaum (Lucas 7), referido originalmente como doulos, ou escravo, em ambos os casos não há julgamento destas relações, e Jesus ainda está presente como testemunha em um deles.
SOBRE O AUTORRedação Lado AA Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa |
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