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As verdades secretas sobre os gays curitibanos

Redação Lado A 19 de Julho, 2015 19h14m

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Dando sequência ao texto de sucesso “As verdades secretas dos garotos de Ipanema”, do colunista da Lado A Bruno de Abreu Rangel na coluna Meninos de Ferro, decidi escrever a versão curitibana do texto. Em nossa versão paranaense, temos alguns preconceitos e algumas verdades não tão desconhecidas, mas a compilação vale a pena para fazer a reflexão.
 
Uma mistura de Revenge com Game of Thrones, com pitadas de Friends. Resumindo à brasileira: Tieta do Agreste, Avenida Brasil e Malhação.
 
Você encontra na balada o carinha da academia para quem você sempre deu oi educadamente e foi correspondido. Você pensa: Sabia, ele é gay. Você vai falar com ele e a pessoa simplesmente finge que não te reconhece, ou pior, vem com a história de que ele tem um irmão gêmeo idêntico e que ele nunca te viu na vida. Acredite, isso acontece em Curitiba. 

 

Esses neo héteros pseudo ativos… A pessoa posta fotos sem camisa no espelho a cada 30 minutos, tem uma legião de seguidores no Instagram, já pegou metade da cidade e o tal acredita que ninguém sabe ele é gay. A família não sabe, então ele só sai com discretos ou casados, não vai às baladas gays, prefere as alternativas, se diz macho e até tem umas amigas mulheres para se passarem de namoradas. Se diz ativo versátil mas basta um leve toque em sua bunda para que ele vire como a cadeira do The Voice Brasil. 
 
A descoberta da sexualidade começa assim: Estava bêbado, sou hétero curioso, estava bêbado de novo, sou bissexual, foi uma fase, eu pego mulher, sou só ativo, sou discreto, curto caras e surubas, sou ativo versátil, curto os dois, sou liberal, já transei com a cidade inteira mas hoje tenho namorado (novo na cidade ou de fora). E sim, usa xadrez e não tira a sobrancelha achando que isso o faz mais macho.

 

A cara da riqueza… Open bar de bebida desconhecida, cerveja ou Jurupinga é o novo champagne bar na cidade. E como está pago, vai tudo para o chão e se pega outra. E as bulímicas juram que é só vomitar depois e beber mais. A nova diversão virou desviar das poças nojentas e zoar os amigos que caíram primeiro, entraram em coma alcoólico, e ninguém lembra de nada, porque se lembrar da noite anterior é coisa de careta.
 
E ao pó retornarás…  Tem um cartel absurdo de drogas na noite da cidade mas a cocaína sempre reina. Porque é chique tomar drink batizado com pirim pim pim mais batizado ainda, ou tomar bala. E tem bala até no formato da bandeira do Brasil, verde, um orgulho para as mais nacionalistas. O mortal GHB ainda aparece nas baladas, agora também nas baladas hétero. E quem tem sobrando ainda faz uma graninha no final de semana, porque o curitibano é empreendedor. O loló também não morreu.

 

Curitibano sim. O que menos vemos são os reais gays curitibanos nas baladas mas quando eles aparecem, se destacam. Ou estão em grupos hermeticamente fechados ou sozinhos com a cara da depressão. O corpo em dia, carão, cabelo sempre alto… o gay curitibano não se acha gay, ela se acha divo. Ele jura que é ativo, que procura um amor a cada final de semana, e que o fato dele ser rodado que nem carrossel não interessa pois ele é bonito e jovem. Embora esteja falido, tomando uma mistura alcoólica que custa mais barato que o etanol no posto… faz pose de fino. E ele realmente acredita que isso irá durar para sempre. 
 
Esquentas. Com a crise e muitos grupos fechados, o pessoal agora adora frequentar a casa dos amigos que oferecem pré-festas. Tipo festinha americana, o encontro composto metade de amigas e outra metade de lanchinhos para serem jogados dentro do grupo. A ostentação e bebedeira começam cedo e muitos nem chegam às baladas. Vale a pena pois se bebe drinks bons a um custo menor, faz o networking e ainda se rolar, rende uma suruba. Porque relacionamento aberto, mesmo que a outra pessoa não saiba, faz parte.

 

Sim, porque se tem uma tradição nesta cidade é fazer sexo. As pessoas podem não se falar nas ruas, mas na internet e nos celulares há grupos e mais grupos e contatos para sacanagem. Raro quem nunca fez a três e com 25 anos dupla penetração é um assunto da semana passada. Pois o sexo virou automático e se perdeu a noção de sexo bom. Transe-se drogado ou bêbado e a avaliação é sempre que foi satisfatório. Melhor do que nada… o boy era luxo… A verdade é que o curitibano raramente é bom no sexo. Primeiro porque não interage, não se dedica ao outro, não desce do pedestal e se acha um ator pornô famoso e após gozar já está pensando na próxima transa. O sexo é por muitas vezes tão frio quanto a cidade, mas o Sol aparece eventualmente e é na busca desse El Dourado que as pessoas acreditam. Com orgulho, todos dizem já peguei aquele ou esse mas não sabem nem o que a outra pessoa faz da vida e as vezes nem lembram o seu nome. Quando lembram, vai para o caderninho de fast fuck… pois relembrar é viver e a carência é literalmente foda.
 
Ou então o povo se joga nos botecos de rua, pois não precisa pagar entrada. Quando viajam elogiam a cidade e gastam horrores nos ingressos das baladas de fora, mas quando então na cidade adoram reclamar da mesmice e dos valores de ingresso. Engraçado é que se alguém de fora quer conhecer a cidade, só elogiam e levam o amigo de fora e os exibem como fazem com os namorados ou peguetes. 
 
E o que tem de putos disfarçados. Tem muita gente que vive de programas sexuais, alguns atuando em vida dupla, outro explorando namorados, buscando clientes na internet, ruas ou saunas… Tudo que dê para pagar os caros suplementos e anabolizantes, pois os músculos são um caro e crucial investimento que ainda juram serem naturais. As academias são abarrotadas de gays enrustidos e gays caçadoras, juntando a fome com a vontade de dar, ou até comer. 
 
Apesar da aparente praticidade na hora do sexo, as pessoas são enroladas. Escolhem muito mas perdem os parâmetros facilmente. Rola pegação em banheirões, parques, escadas de emergência de shoppings e prédios. O sexo na cidade é fácil se você corresponde ao padrão “macho” e aplicar pequenas mentiras. Mentir a idade é praxe, praticamente os quarentões estão extintos na internet. 
 
Camisinha. A carência e o sempre questionável nível de consciência fazem com que muitos esqueçam a camisinha já nas primeiras transas. Roletas russas como “deixa eu por a cabecinha” e “goza na portinha” com desconhecidos não são incomuns. A aventura por aqui é sempre hardcore, com muitos pegando desconhecidos nas ruas ou conhecendo via internet para uma “real agora”. Foi bom para você? A resposta sempre será foi ótimooo (como se sexo fosse almoçar em um buffet livre). E sobre o teste de HIV elas acreditam que doando sangue (e gays nem podem doar sangue) o laboratório irá ligar para contar se elas tiverem “algo”. Muitos tem 30-40 anos e nunca fizeram o teste, a maioria por medo do resultado.

 

E assim segue a vida, com as gays curitibanas felizes para sempre, enquanto durarem os estoques de suplementos, aditivos, sonhos, mentiras e corpos novos, pois se tem uma frase cultivada na cidade é que figurinha repetida não completa álbum. Mas tamanho é documento sim, quem disser que não que atire a primeira pedra. E a cidade toda sabe da vida sexual alheia pois a graça está no trocar as figurinhas, já que o álbum nunca estará completo.

 

Allan Johan é jornalista, ativista, editor da Lado A e desde 1999 mantém o Blog do Johan, uma das primeiras páginas pessoais gays do país, hoje na Lado A.
 
Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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