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Rei Gay

Redação Lado A 28 de Março, 2016 16h57m

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A socióloga e colunista portuguesa Elisa Rodrigues escreveu em seu blog um conto de fadas gay, destaque na mídia portuguesa esta semana. Nela, a escritora conta a história fictícia de um príncipe gay que iria se casar a mando dos pais mas então ele declara seu amor por outro rapaz. Super lindo! Você confere aqui a coluna “Super Mulher ou Coisa do Género(Sic)” da autora. A ilustração acima é do livro infantil “Os Príncipes e o Tesouro”, do professor universitário Jeffrey A.Miles, lançado em 2014.

Conto de fadas gay
Por Elisabete Rodrigues
 
Duarte nasceu e viveu toda a adolescência dentro do castelo. A mãe rainha e o pai rei tinham receio do que lhe pudesse acontecer fora das muralhas e fizeram de tudo para o proteger. Os professores iam dar-lhe aulas na torre maior. Foi aí que aprendeu inglês e mandarim por questões estratégicas do reino. Teve aulas particulares de representação, natação, viola, esgrima… Tornou-se um príncipe culto, fisicamente ágil e robusto. Como não frequentou a escola, os filhos dos empregados eram os seus melhores amigos.
 
Ao completar 18 anos foi organizado um baile em sua honra. Estava na altura de casar e o baile serviria para lhe escolher uma noiva. Foram enviados convites para todos os reinos vizinhos e no total compareceram três centenas de pessoas. O Duarte estava lindo nesse dia, mas a sua expressão facial não podia revelar maior tristeza. A mãe rainha apresentou-lhe pessoalmente duas ou três meninas de sangue azul da sua eleição. De lágrimas nos olhos, Duarte dançou toda a noite com as candidatas. Não conseguia disfarçar a tristeza e o incómodo.
 
O príncipe estava há muito apaixonado por Francisco, o filho do mordomo principal. Francisco era um rapaz forte e doce, muito perspicaz e com um sentido de humor extraordinário. Os olhos de um azul profundo hipnotizaram o Duarte para sempre. O Francisco fazia-o feliz.
 
Quando o baile terminou Duarte sentiu que chegara o momento de contar toda a verdade aos pais. Apesar de antecipar o sofrimento que lhes ia causar, não podia continuar a adiar esta conversa e fê-lo com Francisco presente.
 
“Mãe, pai, eu e o Francisco amamo-nos e queremos ficar juntos, constituir família. Se eu chegar a ser rei desta terra é o Francisco que estará ao meu lado.”
 
A mãe rainha teve uma quebra de tensão e desmaiou. O pai deu-lhe uma bofetada estridente e começou a gritar ordens. O mordomo foi despedido e o Francisco expulso do reino. Seguiram-se meses de amargura. Duarte recusava-se a sair do quarto. Emagreceu cinco quilos em poucas semanas. O rei e a rainha começaram a questionar a sua decisão, no entanto, temiam a reacção dos demais reinos. Tinham receio de que um rei homossexual – era assim que Duarte seria conhecido – poderia colocar a credibilidade e independência do reino em xeque. A avaliação das agências de rating iria com certeza cair a pique… O reino chegaria a lixo…
 
Exactamente um ano depois Duarte decidiu enfrentar novamente os pais e renunciar ao seu título. Não herdaria o trono caso não aceitassem o seu amor por Francisco e essa condição era irrevogável. Nesse momento, os reis deram-se conta do erro que estavam a cometer. O casamento aconteceu dia 1 de Abril de 1900, tendo a festa durado sete dias. Duarte e Francisco viveram felizes para sempre, com as dez crianças órfãs que adoptaram em conjunto.
 
Redação Lado A

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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