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Exposição cancelada no Rio Grande do Sul reabre debate sobre arte e censura

Redação Lado A 12 de Setembro, 2017 23h51m

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Desde domingo, 10 de setembro, uma notícia tem tomado conta das redes sociais: a exposição de arte cancelada no Rio Grande do Sul. Oficialmente fechada pelo Santander Cultural no domingo após reprovação de movimentos religiosos e do Movimento Brasil Livre (MBL), as pessoas dividiram-se na internet contra e a favor a exposição.
 
Os movimentos responsáveis pelo cancelamento da “Queermuseu – cartografias da diferença na arte brasileira” ressaltam que a exposição fazia apologia a pedofilia e a zoofilia. As obras de mais de 85 artistas foram alvos de críticas, incentivando que correntistas do Banco Santander cancelassem suas contas como forma de boicote.
 
Em entrevista ao site G1, o curador da exposição, Gaudêncio Fidelis relatou que o MBL fez “ataques sistemáticos” desde 6 de setembro contra a mostra. “Eles ingressaram na exposição atacando o público com câmera em punho, perguntando se gostavam de pornografia, de pedofilia.” O curador também disse que, por preservação das obras, foi necessário chamar a equipe de segurança para retirar os integrantes do MBL do museu. Gaudêncio declarou que nas redes socais as peças foram descontextualizadas e que o MBL apresentou uma falsa narrativa, por isso acredita que as opiniões na internet são, na maioria, de pessoas que não foram ao museu. “Isso foi feito com base em narrativa falsa, imagens e vídeos editados. O MBL resolveu transformar a exposição como plataforma de visibilidade.”
 
Ontem, 11 de setembro, dois promotores do Ministério Público do Rio Grande do Sul visitaram a exposição para averiguar as denúncias de pedofilia e zoofilia. Das mais de 200 obras, eles consideraram que 4 ou 5 poderiam caracterizar cenas de sexo explícito. Porém, segundo a legislação, não há nenhuma obra que tipifique a pedofilia. Para essas obras, ele aconselha que haja um espaço reservado, mas ressalta que o Estatuto da Criança e do Adolescente não obriga que isso seja feito.  
 
Ainda que o debate sobre o conteúdo moral das obras também esteja acalorado, tem se discutido muito sobre a liberdade de expressão e a censura. Em forma de protesto a favor da livre manifestação artística, circulam nas redes sociais imagens de obras históricas famosas com tarjas pretas censurando órgãos genitais, como por exemplo a escultura de David, feita por Michelangelo em 1504. Em entrevista a uma rádio gaúcha, Kim Kataguiri, representante do MBL, desconversou quando questionado se esse movimento não passava de uma prática de censura. “A questão central não é essa. Estou sendo obrigado a pagar [para entrar na exposição], muitos jornalistas disseram que o MBL não estava sendo liberal. Mas não existe maior expressão de livre mercado que o boicote”. Lembremos que o MBL é um movimento político de direita que defende o liberalismo (livre mercado e liberdade de expressão), portanto, promover o fechamento da exposição vai contra seus próprios princípios.
 
E você leitor, acredita em que? Cada um pode expressar sua opinião e suas ideias, independente de seu conteúdo, no estilo Voltaire “Eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”? Ou há um limite para o que se fala/expressa, isto é, algumas coisas devem ser censuradas, assim como no livro 1984, de George Orwell? Questões complexas exigem respostas complexas que vão além dessa polarização entre sim e não. Provavelmente a resposta que procuramos esteja nesse meio – gigantesco – entre essas duas questões.

 

 
Redação Lado A

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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