O deputado distrital Rodrigo Delmasso (Podemos-DF) propôs uma projeto de lei que cria a Semana da Difusão da Cultura Heterossexual. Delmasso pertence à bancada evangélica da Câmara Legislativa que defende questões tradicionais como a manutenção da família, formada por heterossexuais, e a inibição de projetos que discutem temas como aborto no Distrito Federal.
Apesar de suas declarações conservadoras e fundamentalistas, em “defesa da família” e a favor do “relacionamento natural entre homem e mulher”, Delmasso traz de seu passado um envolvimento homossexual com outro homem. O deputado revelou o assunto durante um testemunho que deu há alguns anos, quando ainda não fazia parte da política. A intenção de seu discurso era convencer os outros fiéis homossexuais de que era possível mudar de “opção”. Na época, Delmasso palestrou na Igreja Batista, mas já repetiu a mesma história na Igreja Sara Nossa Terra, da qual faz parte.
Em entrevista concedida para o site Metrópoles, Delmasso afirmou que seu passado homossexual foi um momento do qual ele se arrepende amargamente e que, hoje, é heterossexual não por escolha, mas porque nasceu assim. Contraditoriamente, o parlamentar acredita que a homossexualidade é uma opção que pode ser revertida com a ajuda de testemunhos como o seu.
Quando entrou na carreira política, Rodrigo Delmasso concentrou todas as suas forças para elencar questões heterossexuais em detrimento das poucas conquitas para cessar discriminação contra a comunidade LGBT. Ultimamente, a mais nova tentativa de levar suas convicções para o plenário foi a submissão do projeto sobre a Semana da Difusão da Cultura Heterossexual. O projeto visa “resguardar os direitos e garantias aos heterossexuais de se manifestarem e terem a prerrogativa de difundirem da cultura do mesmo e não serem discriminados por isso”.
Para o autor do projeto, as atuais discussões sobre gênero e sexualidade no âmbito social, familiar e político culminam na ofuscação da heterossexualidade como fator “primordial para a perpetuação da espécie humana”, conforme consta no projeto. No final do texto, Delmasso confirma que seus esforços na política são em detrimento da população LGBT quando afirma que “tenho feito do meu mandado e da minha atuação parlamentar instrumentos de valorização da família”. O deputado alega ainda que a justificativa de seu projeto vem de parâmetros naturais e religiosos, valorizando as relações entre homem e mulher. “O ser humano nasce homem ou mulher, inclusive a ciência demonstra isso. Então, para mim, o que a natureza determina é correto”, disse o parlamentar, para quem os homossexuais estão indo contra a natureza.
Quando submeteu sua ideia, alguns grupos sociais se opuseram. Para Delmasso, a oposição e a polêmica que seu projeto gerou são reflexos de uma sociedade intolerante contra heterossexuais. Entretanto, o título do projeto, que trata sobre a uma semana cultural destinada a assuntos heterossexuais, a ser realizada em junho, não condiz com a justificativa do deputado à Metropolitana. Quando questionado sobre o que seria a “cultura heterossexual”, Delmasso respondeu: “É a cultura do respeito ao próximo, de aceitação do sexo oposto. O homem, por exemplo, não pode maltratar e subjugar uma mulher. Por isso, não há nenhum estranhamento quando se fala em dia da valorização da mulher.”. No entanto, o texto do projeto faz menção apenas à elevação da heterossexualidade em detrimento do que ele chama de “ideologia gay”. “Ser hétero para mim é ser natural”, disse.