Redação Lado A | 17 de Novembro, 2017 | 10h31m |
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Por diversas vezes já comentamos sobre o machismo e preconceito que permeiam a comunidade gay. Desta vez, a revista britânica Attitude realizou a pesquisa “Masc Survey” que ilustra bem esta constatação de que homossexuais e bissexuais reproduzem o machismo da nossa sociedade contra as pessoas ditas “afeminadas”. Mais de 5 mil pessoas participaram da pesquisa realizada em outubro deste ano e 71% dos entrevistados afirmaram que “perdem o tesão ao constatar sinais de feminilidade” quando conhecem alguém e 29% afirmaram que veem sinais de feminilidade como características positivas em possíveis parceiros.
Mas esses pontos de vista não se resumem à busca de parceiros. 41% afirmaram que indivíduos gays afeminados “dão à comunidade uma reputação ou imagem ruim”. A mesma quantidade de pessoas reportou baixa auto estima e afirmou que homens gays, bissexuais ou queer são “menos homem”, em razão de sua sexualidade. Por vezes usamos o gênero feminino ou xingamentos dados às mulheres como forma de diminuir uns aos outros. Ou seja, o nosso machismo alimenta a homofobia dentro da própria comunidade.
A constatação nada mais é do que o reflexo do machismo em nossa sociedade: no qual as mulheres tem um valor menor, são consideradas “fracas”, emocionalmente instáveis, entre outros atributos que desqualificam as mulheres. Aos homens são dados atributos contrários e é como se os homens gays fossem semelhantes às mulheres ao reproduzir comportamentos e trejeitos ditos como femininos e abrissem mão de sua “superioridade natural” por terem nascido homens. Nesse sentido, drag queens, transexuais e travestis são as maiores vítimas da LGBTfobia, dentro e fora do meio. Também no meio gay: ativos são vistos como “garanhões” e passivos como “putas”. Quem come ainda é o “macho”. As esquetes de humor ridicularizam os gays afeminados todos os dias.
Para muitos gays, ser passivo no sexo ainda é um problema sério, mesmo quando sem trejeitos, é como se ser passivo trouxesse a feminilidade à força para alguns. Nem todos conseguem relaxar e sentir prazer, a maioria por conta da neura de estar em uma posição perturbadora para eles. A passividade, vista como posição sexual feminina, receptora, é uma forma de humilhação para muitos e diminuidora de sua masculinidade. O culto ao falo, a possessividade e reprodução do modelo machista de relacionamento (onde o macho dominador não pode ser questionado pela “fêmea” submissa) ainda fazem parte do cotidiano de muitos casais gays. A cultura do estupro, do sexo violento, da violência doméstica, entre outras mimetizações do padrão mental aprendido em casa completam o que muitos tem como ideal de relacionamento entre pessoas.
Nesta questão, a desconstrução do modelo macho-fêmea instalado na nossa sociedade pode contribuir para relações menos violentas tanto para homossexuais quanto para heterossexuais. Antes de sermos acusados de querer ideologizar o mundo, é preciso discutir e aplicar modelos na própria comunidade. Há quem diga que descontruir essas percepções é prejudicial ao modelo construído ao longo da história da humanidade mas essas percepções não são ultrapassadas apenas no meio LGBT mas também na sociedade em geral, onde quase metade dos lares é sustentado por mulheres ou ainda quando a mulher já deixou de ser, e sem prejuízo, extensão de seus homens.
SOBRE O AUTORRedação Lado AA Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa |
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